Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios e outras sandices crônicas é o sexto livro de André J. Gomes. Lançado pela Editora Nova Alexandria, o livro tem 34 crônicas publicadas originalmente na Internet, em portais como o CONTI outra e Bula.
O prefácio é do escritor João Anzanello Carrascoza, duas vezes premiado com o Jabuti. Algumas das crônicas superaram um milhão de visualizações na rede. “Os textos tratam do amor de uma forma mais ampla, o amor pelo trabalho, pelo movimento de um dia depois do outro, pelos filhos, a família, a saudade, os lugares em que estivemos e em que sonhamos estar”, conta André J. Gomes.
Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios e outras sandices crônicas é o quinto livro de André na Editora Nova Alexandria, que também tem quatro títulos infantis do autor em seu catálogo.
Em 2014, André J. Gomes lançou também a coletânea Cartas de Amor a toda gente, pela Editora Lumos, de Curitiba.
Confira uma conversa com ele:
– Quando e por que você começou a escrever?
Eu sempre achei bonito o trabalho de escrever. Sou de Araraquara, uma cidade muito quente e muito bonita no interior de São Paulo. Antes de me alfabetizar, eu me lembro de passar um tempo deitado de barriga no chão fazendo rabiscos com uma caneta sobre o jornal, imitando o gesto de escrever. Riscava a folha inteira e perguntava à minha avó, à minha bisavó, à minha mãe ou à minha tia o que estava escrito. E elas “liam” o que eu tinha feito. Inventavam ali na hora. Depois, aprendi a ler e escrever e fazia paródias para as músicas que tocavam no rádio. Também passava horas copiando num caderno os textos da cartilha da escola. Escrever me deixava tranquilo. Depois passei a ter a impressão de que a gente escreve para se sentir menos só. Para dividir com alguém ali fora o que passa aqui dentro da gente. A gente escreve e abre a porta para quem passa.
– Quais são seus autores preferidos?
Gabriel Garcia Márquez, Ernest Hemingway, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Machado de Assis, Marcos Rey, Jack Kerouac, Jerome David Salinger, Franz Kafka e tantos outros super-heróis e seus superpoderes de empurrar a gente pra frente com a força de um tropeção.
– E livros?
Cem Anos de Solidão, O Amor nos tempos do cólera, O Velho e o Mar, Por quem os sinos dobram, O Verão e as Mulheres, O Amor acaba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Memórias de um gigolô, On the Road, O apanhador no campo de centeio, A Metamorfose, O Processo e muitos outros.
– O que lhe dá mais prazer: ler ou escrever?
Ler e reler dá prazer, angústia, medo, saudade, alegria, coragem, tristeza, insegurança, vontade de aprender o que a gente não sabe, viajar a lugares que a gente não conhece. Escrever dá tudo isso em doses mais altas.
– Você é adepto de e-readers? O que pensa sobre a “guerra” e-books x livros impressos?
Sim, eu leio muito e-book. Gosto muito do formato, mas tenho mais livros em papel ainda. E acho que se toda guerra fosse assim, em que dois lados “disputam” a preferência dos leitores, incentivando todo mundo a consumir livros no papel ou na tela, o mundo estaria um pouquinho melhor.
– Como surgem as suas crônicas?
São histórias, lembranças, divagações e desejos sinceros sobre o amor, as pessoas e a experiência amorosa. Tenho uma vontade infantil de ver isso publicado, mostrar à minha mãe, à minha avó e às minhas tias em Araraquara e pedir para elas lerem os meus rabiscos.
– Que dicas você pode dar para quem está começando a se aventurar no universo literário agora?
São os mesmos conselhos que as minhas avós me deram e que eu também sigo com o coração cheio de festa. Elas diziam que a gente precisa cuidar direitinho do que tem. Do trabalho, da família, do amor, do sonho. Na literatura, como em todas as áreas, uma dedicação canina nos dá no mínimo a sensação de que estamos tentando honestamente. E a vida é isso mesmo, né? É o conjunto das nossas tentativas honestas.
– E o que o inspira como autor?
Eu sou um sujeito que trabalha desde muito cedo. Meu primeiro emprego com carteira assinada foi aos 15 anos, em um cartório no centro de São Paulo. Eu era office-boy e passava o dia na rua. Fazia o serviço rapidinho pra sentar nos ônibus e ler. Quando caminhava nas ruas do centro ou na avenida paulista, aprendi que ler e andar a pé são atividades incompatíveis e descobri o prazer de olhar as pessoas. Olhava com curiosidade, inveja, medo, dó, desejo, alegria. Eu olhava. Então, olhar os outros e ler no ônibus representavam a quase totalidade das minhas atividades na adolescência durante o dia. Por outro lado, eu cresci numa família de trabalhadores braçais. Meu pai é um honrado pintor de paredes até hoje, minha mãe sempre foi uma empregada doméstica dedicada, assim como minha tia paterna, que foi das pessoas mais importantes da minha infância. Minha bisavó, com quem convivi até os 11 anos, e minha avó paternas, donas de casa que em algum momento trabalharam em casas de outras famílias. Também tenho um tio marceneiro e inúmeros outros parentes operários. Então, eu também sou um trabalhador braçal. Tenho dois empregos. Trabalho em agência de propaganda durante o dia e dou aula em faculdade à noite. Escrever vem dessa aventura de todo dia e de olhar o que acontece aqui e ali. Sigo observando a vida. Olho, ouço, anoto e tento dividir honestamente o que passa aqui dentro com quem está por perto. Esse movimento, a vida, as pessoas, as conversas com o meu filho, o que nos falta e o que nos sobra, tudo isso me dá uma vontade louca de contar tudo para alguém. Aí eu vou escrevendo as minhas cartas, meus manifestos. São as minhas cartas de amor que escrevo para Deus e todo mundo.
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