Resenha de Clóvis Marcelo
Sinopse: Ambientado na Papua Nova Guiné nos anos de 1990, em plena guerra civil, o romance, contado sob a perspectiva de Matilda, de 13 anos, mostra como um personagem de um dos grandes escritores do século XIX, Charles Dickens, é capaz de mudar a vida da jovem e de toda a sua comunidade, na ilha de Bougainville. Isolados por um bloqueio político, econômico e militar, os habitantes da ilha vivem com dificuldades e privações. A sorte de todos só mudaria quando o único homem branco que restara na aldeia decide reabrir a esquecida e também única escola do local, iniciando a leitura do clássico de Dickens: Grandes esperanças.
ENREDO
Estamos no início da década de 1990, numa ilha tropical chamada Bougainville a qual sofre as graves consequências de uma guerra civil. Com o conflito, o lugar torna-se um caos. É lá que mora a inocente Matilda, uma inocente garota de 13 anos e narradora da história.
Isolados por um bloqueio político, econômico e militar, os habitantes da ilha vivem com dificuldades e privações desde que os “brancos” fecharam a mina, única fonte de riqueza de toda a comunidade. Para Matilda, o bloqueio tem um significado ainda mais doloroso – a menina nunca mais vira seu pai desde então.
Um único branco permanece na aldeia: o Sr. Watts. Cabe a ele a missão de reabrir a escola e ensinar algo útil as crianças, de modo a passar o tempo. Sr. Watts, ou Olho Arregalado, como todos o chamam, é um homem misterioso e excêntrico. Branco, alto e sempre metido em seu terno de linho, mantinha o hábito de usar um nariz de palhaço ao levar sua mulher Grace, uma negra nativa da ilha, para passear como uma rainha em uma carroça. Ninguém saberia dizer por que Olho Arregalado permanecera em Bougainville depois do bloqueio. Sua história só começa a vir à tona quando as crianças são chamadas de volta à escola.
Ele começa a ler para a turma, em voz alta, o seu velho exemplar de “Grandes Esperanças“ , de Charlie Dickens. Pip, o personagem principal dessa história, torna-se imediatamente um cativo na vida daquelas crianças e os meninos logo perceberão que, sobretudo numa ilha em guerra, o poder da imaginação pode ser algo muito valioso.
COMENTÁRIOS
Um detalhe sobre essa história: Eles estão isolados do mundo e nem papel tem para escrever. Tudo que aprendem com a leitura do livro tem que ficar guardado na memória para evitar que a história se perca.
O livro não te prepara para o que está por vir, a medida que o autor te conduz por um caminho, crimes são cometidos e vidas são perdidas sem licença prévia. Nossa intenção, como leitor, é sempre imaginar o melhor cenário para tudo; os rostos mais belos; os melhores personagens… Mas aqui, há sempre o contraste com o que é real e diferente.
Se eu tivesse que indicar um livro para vocês, indicaria esse. Um tipo de livro que nos faz pensar que todos deveriam ter em mãos.
DIAGRAMAÇÃO
A diagramação do livro segue a mesma de “Jogos Vorazes”, com exceção das páginas brancas e da não numeração dos capítulos. Estes são curtos, o que facilitam o dinamismo da leitura.
Fiquei um bom tempo me perguntando em que gênero esse livro estaria e cheguei à conclusão que podemos classificá-lo tanto como uma distopia como uma Ficção real e crível (me fiz claro?). A leitura faz nos lembra muito “A menina que roubava livros” por inúmeros aspectos: narração de uma menina; segue todo o percurso de sua vida; se passa em tempos de guerra; há muita perda e claro, o amor pelos livros.
O QUE ESPERAR DESSE LIVRO?
Aqui você vai encontrar vários contrapontos. Ao passo que nos deparamos com guerra, temos a delicadeza do Sr. Watts para com as crianças; companheirismo da comunidade e o egoísmo de uns poucos que acabam com boa parte dela; calma mas também a revolta por tantas disparidades.
Se eu já vinha gostando do desenrolar da história, o final então foi ótimo. Descobrir como essa opressão acaba; o que acontece com os personagens principais e, acima de tudo, a verdade sobre a vida de cada um deles e os motivos que o levaram aquele longínquo lugar, foi libertador.
Primeiro título de Lloyd Jones a chegar ao mercado internacional, O sr. Pip acaba ganhou o prêmio oferecido pela Commonwealth.
A presença dos personagens de Grandes Esperanças é constante, tem tanta familiaridade ao se falar deles que é quase como se estivéssemos lendo dois livros ao mesmo tempo – um dentro do outro. Relendo um dos meus livros, encontrei mais citações dessa história escrita por Dickens, o que não me deixou com outra alternativa senão acrescentá-lo em minhas próximas leituras.
Primeiro título de Lloyd Jones a chegar ao mercado internacional, O sr. Pip acaba ganhou oprêmio oferecido pela Commonwealth.
Fonte indicada para mais resenhas de qualidade:
De frente com os livros
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