Quatro horas da manhã. O som emitido pelo despertador sinaliza que meu dia começou. A música se faz presente na minha vida já daí, desse despertar matinal. Depois ela segue meus ouvidos quando pego o ônibus com destino à faculdade. Duas horas de duração de viagem são preenchidas pela minha playlist eclética. A trilha serve para passar o tempo, isso quando ela consegue vencer minha batalha interna entre ouvir a música ou me deixar cair no sono quase incontrolável.
Vivi numa época em que a música saia de um CD. Meus pais já são da época em que a música era gravada em fitas cassetes. Meus avós já são da época do vinil. E a vida é esse ciclo. Uma vitrola em que as pessoas são como discos ritmados organicamente, em constante movimento, mas que um dia para de girar e então troca-se de disco. E a música tem dessas coisas! Esse despertar de uma nostalgia desde a canção de ninar quando ouvimos ainda bebê, até aquela trilha que embala o primeiro amor ou até mesmo aquela canção que marca as noites de solidão — sofrência!
Hoje a música, tecnicamente falando, já é um padrão de arquivos de áudio, também conhecido como mp3. Cabe aqui, cabe acolá, cabe dentro do radinho do Zé da padaria até no meu celular! Essa é a magia da música, a universalidade de se fazer som em diferentes ritmos, melodias, lugares, tempos e povos. Cada nota emitida é capaz de arrancar lágrimas, de abrir sorrisos, de levar à outra dimensão. E me vem à memória o pensamento de uma amiga que diz que a música por si só tem o poder de transcender. “Quase um orgasmo musical!”, brinca a gente.
Mas esse jeito fácil de possuir determinada música é bem diferente de alguns tempos atrás. Velhos tempos! Antes quando escutávamos uma música, geralmente na rádio, o desejo de tê-la nos preenchia. Logo vinha a vontade de conseguir um CD com aquela canção. O gosto de escutá-la várias e várias vezes trazia a sensação de que naquele momento aquela música marcava o instante. E isso resultou na nostalgia de hoje, na lembrança de está brincando no meio da sala enquanto minha tia varria a casa escutando aquela canção tocada no rádio. Para ela o rádio era o entretenimento das manhãs, a trilha sonora dos afazeres domésticos.
Aí veio minha adolescência e com ela as espinhas, os dramas juvenis e o auge do mp3. A música agora poderia ser compactada e colocada tanto em CDs virgens, quanto nos celulares, em iPods, no computador, enfim, acompanhou os passos da tecnologia. E acompanhou também os meus passos, melhor dizendo, os meus ouvidos, nas tardes fazendo deveres do colégio, nas férias na casa da prima, nas noites de crises existenciais. A música permeia entre o novo e o antigo, o high-tech e o retrô. Todavia acima de tudo ela não fica velha, mas sim eterniza gerações.
Encontro um baú musical. Abro e me deparo com: Anos 50, o rock de Elvis Presley e a bossa nova de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Anos 60 e 70, a popularidade dos Beatles e o nascer da MPB, bem como dos movimentos punk, hippie, black power e com eles enraizada a música que lhes representa. Anos 80 e 90, o grunge de Nirvana e o pop de figuras como Madonna, Michael Jackson e Cindy Lauper. E dos anos 2000 para cá vêm se propagando os mais diversos ritmos, as mais variadas sonoridades e estilos, desde o funk ao indie, desde o pagode ao folk. Muito disso eu não vivi, não naquele tempo, não naquele instante. Contudo hoje posso colocar meus fones de ouvidos e transcender para qualquer momento, posso navegar nas ondas sonoras de cada um desses ritmos, independente de idade, pois o magnifico da música é que ela não tem data de validade.
Por André Luís
“André Luis é um jornalista em formação e metido a escritor. Maldito clichê. Sentimental às avessas, amante de música, livros, filmes, séries e outras coisinhas a mais. Pode ser encontrado no facebook: https://www.facebook.com/andre.anddy e no e-mail: [email protected]. “