Mudar hábitos que por muito tempo repetimos, incansável e automaticamente, não é nada fácil.
Reeducar a alimentação ou exercitar-se diariamente é, para muitas pessoas, uma luta, mesmo conscientes de que sejam hábitos que propiciem uma vida mais saudável.
Dias atrás, em pleno exercício de reeducação alimentar, recebo um presente embrulhado com esmero.
Ao abri-lo, uma deliciosa surpresa… Um pote de arroz-doce quentinho!
Devoro-o com os olhos, embriago-me com o olfato, lambuzo a ponta do dedo… Meu Deus, que tentação!
Perguntei-me se eu seria capaz de resistir… Como negar, como rejeitar um amor de criança?
Sim, pois tenho uma história deliciosa com o arroz doce! Quando pequena, brinquei muito de “casinha” com minhas primas; adorávamos fazer comidinhas e oferecer às bonecas.
Tínhamos uma panela que era acoplada a outra menor, mais rasa, a qual servia para colocar álcool. Ali, fazíamos comida de verdade…
O arroz ia sendo cozido com leite e açúcar no fogo atea- do ao álcool. Quando pronto, colocávamos nos potes, polvi- lhávamos com canela e comíamos até não aguentar mais. Nes- ses momentos, esquecíamo-nos das bonecas e as perdíamos de vista.
Com essa doce lembrança, minha memória saliva de alegria… Indescritível a sensação de prazer e felicidade que sentíamos, naquele momento: prazer pelo sabor que degustávamos; felicidade, porque a comida não era de “mentirinha”!
O arroz-doce era o objeto transicional entre o real e o imaginário.
Hoje, pergunto-me como nossas mães consentiam tal brincadeira, afinal o fogo sempre foi algo muito temido e proibido; chegar perto do fogão ou brincar com fogos de artifício nas festas juninas era algo impensável!
O arroz-doce é, assim, mais do que uma gostosa sobremesa, talvez um feitiço doce!
Quando o fazíamos, não tínhamos bem certeza se éramos crianças brincando de casinha, pessoas grandes cozinhando ou feiticeiras preparando poções mágicas…
Impregnada de tantas sensações e lembranças é que fui desembrulhando.. Não resisti! Parei tudo o que estava fazendo, esqueci meus projetos de vida saudável e fui degustar, deva- gar, o pote inteiro de arroz-doce…
Imagem de capa: PKpix/shutterstock