Outro dia, assistindo ao ótimo “Todas as razões para esquecer”, revisitei algumas dores esquecidas e respirei aliviada ao perceber que as emoções de Antônio, o personagem central, já foram vivenciadas por mim e deixadas para trás. No longa brasileiro, Johnny Massaro interpreta um jovem que leva um fora da namorada e tem que aprender a lidar com toda tristeza e mágoa decorrentes de uma separação, até o momento em que começa a encontrar meios de superar e seguir em frente.

É quase impossível assistir ao filme sem nos identificarmos com Antônio, com toda dor e fragilidade experimentadas por ele, ou nos comovermos diante do momento em que ele finalmente percebe que não há mais o que fazer, senão tocar a vida aceitando o fim de seu relacionamento.

Caio F. Abreu tem uma frase que gosto muito que diz: “É da natureza da dor parar de doer”. Gosto tanto dessa frase porque ela traz esperança. Porque ela nos faz perder o medo de sentir dor. Porque ela nos autoriza a experimentar a aflição, sabendo que essa angústia não será definitiva.

Já estive no lugar de Antônio e superei, mesmo achando que jamais iria sair dessa. O que aprendi com a experiência foi que é preciso acolher a tristeza, vivenciar o luto, se permitir chorar, mas nunca abrir mão de si mesmo e do amor-próprio na tentativa de reverter a situação.

Certas coisas jamais podem ser cobradas. Atenção, amor e permanência num relacionamento são algumas delas. Então, se o outro quer ir, deixe-o ir. Não insista, não tente convence-lo do contrário, não perca o amor-próprio suplicando por uma reconciliação. A dor da perda não é nada comparado à opressão de permanecer numa relação em que somos aturados, e não amados.

Quando você se diminui, você alimenta a dor. Quando você aceita migalhas como prova de atenção, você prolonga o sofrimento. Quando você cobra algo que deveria ser espontâneo, você perde a paz. Quando você se recusa a aceitar aquilo que não pode mudar, você se machuca o dobro. Quando você insiste em conversar com suas feridas, você não se cura.

Numa das cenas do filme que citei, Antônio, já recuperado, diz: “Eu acho que o que faz diferença é saber que vai doer e respeitar. Porque no final, de uma forma muito estranha e inexplicável, vai ser bom também”.

Então é isso. Não se cobre tanto. Não é de uma hora para outra que para de doer, nem da noite para o dia que a gente esquece. Na verdade a gente nunca esquece, pois se foi importante, se acrescentou algo bom, as digitais permanecem. O que acontece é que a dor vai dando lugar ao entendimento, e a lembrança deixa de ser uma experiência mordaz para ser algo tênue, um lembrete de que fomos modificados para sempre…

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Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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