Duas orações unidas por um parágrafo no centro do mundo

“Ajuda-me que já não sei o que faço com o que te sinto”, dizes-me, a voz roçada pelas lágrimas. E eu sorrio, limpo-te as lágrimas. E amo-te.
É sempre com amor que se ajuda quem se ama.
“Queria viver sem precisar do teu abraço, sem depender dos teus lábios”, atiras, enquanto me abraças e me beijas. E a ironia deixa que eu fique em silêncio.
É sempre em silêncio que se ajuda quem se ama.
Preciso-te para depois do que se sente. Preciso-te para além do que é saudável. Mas quem disse que o amor é saudável?
É sempre com deficiências que se ama com perfeição.
“Abraça-me como se me fodesses” pedes-me. E todo o amor, numa simples frase, fica dito.
Amo-te cada abraço como se te fodesse. Como se por dentro dos braços estivesse todo o prazer do mundo, todo o encanto de existir. Como se não houvesse depois para um abraço que se vive agora.
É sempre em agora que está o tempo de quem se ama.
“Não quero que me ajudes se não te estiveres a ajudar”, explicas, a tua mão a ajudar-me o sexo a erguer-se. E depois chega o momento do corpo, o instante em que todos os suores servem para amar.
Se tiver de beber que seja de ti, se tiver de morrer que seja por ti. Se tiver de doer que seja a sério, sem remissões. Não admito dores pequenas para algo tão grande assim.
É sempre em tão grande assim quando se ama assim.
“Ouço Deus no teu orgasmo”, confessas, já ajoelhada diante do que gememos. E nem as paredes conseguem ouvir o que nos dizemos em gritos. E nem a gramática explica uma sintaxe assim: duas orações unidas por um parágrafo no centro do mundo.
Nem o ponto final nos consegue terminar. Nem a água escorre com tanta força, nem a pedra é tão forte como o que nos ensina. E nenhuma sala de aula tem o que nós temos: dois alunos unidos pela certeza de que só o que se desaprende é capaz de ensinar.
É sempre ignorância amar tanto assim.
 

Pedro Chagas Freitas 

 







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