Esse texto não é, nem de longe, o que você gostaria de ler. Aqui, temos um canto de feridas expostas, de declarações que adoeceram e de consequências que você precisará carregar para o resto da vida. É estranho, mas a gente morre de amor.
A gente morre de amor quando falta o ar. Quando, mesmo querendo dizer, palavras faltam. Mais ainda, a gente morre de amor ao se abrir para a verdade. Quando você reconhece que não dá para seguir, que não dá para ser. Às vezes, o amor sobra. Noutras, não preenche. Enquanto isso, a gente morre. Morremos um pouco a cada adeus, a cada desencontro.
A gente morre de amor no dia seguinte. Quando, acordados para um novo amanhecer, percebemos o anúncio da solidão. Quando a ausência grita, estou do seu lado. Às vezes, o amor é injusto. Noutras, implacável. Enquanto isso, a gente morre. Morremos um pouco a cada noite mal dormida, a cada vontade de permanecer.
A gente morre de amor quando chora. Quando, com o peito dilacerado e o rosto encharcado, entendemos, acabou de verdade. Quando não há alternativa senão entregar os pontos. Às vezes, o amor é amargo. Noutras, saboroso. Mas morremos, mais uma vez, a cada tentativa de sobrevida.
A gente morre de amor e não sabe. Porque, vez ou outra, o amor é ceifado num tiro curto à queima roupa. Não é possível revidar, pedir clemência e nem esboçar uma segunda chance. Às vezes, o amor é causa natural. Noutras, terminal. E morremos, inevitavelmente, em algum dia não antecipado.
Eu sei, esse não é um texto otimista, sonhador e aconchegante. Mas o amor também não é, às vezes. A verdade é que morrer sempre será estranho e doloroso. O amor deixa essas lacunas inexplicáveis. Mas a gente respira até o último dia, tentando sorrir e acreditar que, para cada atestado de óbito do amor, uma grande celebração está sendo realizada para o nascimento de outro.
Imagem de capa: Diário de uma Paixão (2004) – Dir. Nick Cassavetes