Vaidade! É uma época estranha essa, de tentativas exacerbadas de tornar públicas as nossas importâncias e ignorar completamente as importâncias alheias. Mais do que isso, a materialização do ato de falar sozinhos, ou, em outro ângulo, falar para todo o mundo.
E hoje vamos de …sucesso, exclusividade, prioridade, sensacionalismo. Vamos para onde? Vamos com quem? Quem queremos que receba a informação da nossa ilustre e cobiçada rotina?
Será que nunca vamos de TPM, enxaqueca, roupa amassada, programa furado, conta virada? Vamos, claro que vamos, mas isso não dá audiência.
Vamos também de fofoca, de achismo, de provocação. Vamos indolentes, sem maiores preocupações.
Vamos sem tempo nenhum para olhar para os lados, valorizar uma virtude de fora, tentar minimamente o esforço de uma autocrítica, uma desaceleração na corrida pelo topo.
Vamos indiferentes, sem levar em conta que o outro é o nosso verdadeiro espelho. Vamos no atropelo, gastando o fôlego da vida com coisas miúdas, perdendo momentos mágicos para um registro frio e marcador de território. Fincamos bandeiras onde deveríamos construir um espaço comum.
E hoje vamos de… solidão desmascarada pela verborragia, status encomendado, popularidade passageira.
Não vamos. Estamos. Estamos fazendo uma força hercúlea não deixar cair o nível da vida perfeita que precisamos apresentar. Estamos abrindo as portas de uma intimidade projetada, já sem qualquer sinal de espontaneidade.
Para onde vamos? Alguns de nós, mais longe ainda, na tentativa incansável de virar mitos e musas. Outros de nós, seremos vencidos pelo cansaço e faremos a cansativa e suada viagem de volta a nós mesmos, a quem negligenciamos, aos lugares, coisas e pessoas, que, embora nem sempre tão lindos nas fotos, são os que confortam e alimentam nossos corações.
E enfim hoje vamos de…o que somos quando ninguém está nos observando.