E por que não felizes para sempre?

Por Adriane Sabroza

Tudo bem que a vida não é um conto de fadas, que nós não somos princesas e que os príncipes, na maioria das vezes, acabam se transformando em sapos.

Tá bom, eu também acho que para sempre é muito tempo, mas que mal tem os relacionamentos acabarem bem ou, melhor dizendo, não acabarem nunca, assim como nos contos de fadas?

Por que o para sempre hoje em dia tem uma conotação negativa e acaba sendo sinônimo de tédio, falta de opção, medo da mudança ou acomodação?

Por que não acreditamos na magia do renascimento, na possibilidade de descobrir o novo em meio ao que é tão familiar e não nos arriscamos a acreditar que é possível, sim, reencontrar na pessoa que está ao nosso lado há tempos alguns dos motivos que nos fizeram, simplesmente, querer ficar?

Ainda que os sonhos não sejam os do passado ou que alguns projetos tenham fracassado, é possível olhar para o lado e reconhecer alguém por quem, um dia, tudo valeu a pena.

Claro que nem tudo vai durar para sempre e todos temos o direito, pensando melhor, o dever de procurarmos a felicidade onde quer que ela esteja. Mas penso que no mundo atual, em plena onda do fast food (a comparação aqui é proposital) tudo se tornou rápido demais, curto e passageiro.

A descontinuidade recorrente das relações não me parece uma falta de compromisso com o outro ou apenas um querer aproveitar as oportunidades. É mais uma falta de compromisso consigo mesmo, o não conseguir apostar todas as fichas pra valer, o não se dar a chance de se conhecer e se reconhecer num mesmo relacionamento durante as diversas fases que ele apresenta.

Não é ficar muito tempo com o outro que a gente não aguenta. O que não suportamos é conviver com aquilo que nos tornamos com o passar do tempo, sem a maquiagem da paixão e o disfarce da novidade. É ter que se esforçar para manter o interesse onde a rotina impera e fazer valer o que se tem de bom, lado a lado com o que não é lá tão bom assim, e que, por culpa da convivência, não há mais como esconder.

O que estou querendo dizer é que, pra aqueles que se dispõe a se aventurar ao felizes para sempre, também não há garantias e há muito trabalho a ser feito, mas que para que o final seja mesmo feliz, é fundamental se olhar de verdade e buscar o melhor possível. Não para agradar ao outro, como muitos pensam, equivocadamente, mas para si mesmo. Para que possamos viver o lado bom do “felizes para sempre”, através do reconhecimento de que estamos juntos, apesar de tudo; de que o tempo passou, mas continuamos aqui, com a nítida percepção de que valeu a pena. E de que pode, sim, ser para sempre.

Sempre, mas de um jeito novo, que se refaz e se transforma com o passar do tempo. Sempre, mas fazendo todos os necessários pit stops para reabastecer o amor e calibrar o relacionamento. Sempre, mas sabendo que príncipes e sapos são dois lados da mesma moeda e que, cá pra nós, as princesas também são meio bruxas. Sempre, lembrando que vai haver momentos em tudo o que você vai querer é estar só, mas que isso não é, de modo algum, incompatível com o estar junto. Aliás, um só é possível quando há a possibilidade do outro. Sempre, do jeito que você sonhou ou como foi possível, mas sim ( por que não?), para sempre. Afinal, como já disse alguém por aí, para sempre não é todo dia.

Adriane Sabroza

Psicoterapeuta por paixão e opção, mãe de três meninas lindas, minha maior realização e, nas horas vagas, aprendiz de escritora, sem nenhuma pretensão.
Adriane Sabroza

Psicoterapeuta por paixão e opção, mãe de três meninas lindas, minha maior realização e, nas horas vagas, aprendiz de escritora, sem nenhuma pretensão.

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