Marla e Gabriel conheceram-se na lavanderia, enquanto ela brigava por causa de um casaco desaparecido. Marla e Gabriel se conheceram no ponto de ônibus, enquanto ele lia 100 Anos de Solidão. Marla e Gabriel se conheceram num bar, e também numa esquina movimentada de Nova Iorque, e também num curso de gastronomia vegana. Todas as vezes que alguém pergunta onde eles se conheceram, eles contam uma história diferente, mais absurda e mais engraçada que anterior.
Gabriel e Marla na verdade se conheceram num aplicativo de celular, desses em que se elimina alguém com um xis ou aceita-o na sua vida com um coração. Eles não contam todas essas histórias por vergonha. Contam porque acham engraçado. Eles são assim. Parecem duas crianças, descobrindo o riso um do outro. Combinaram essa molecagem e eu sou uma das poucas testemunhas que sabe de toda a verdade. Para a vó do Gabriel disseram que se conheceram no Carrefour, seção de congelados. Para a mãe da Marla, os dois se viram pela primeira vez em um voo turbulento entre Belo Horizonte e Brasília. Tudo verdade.
Adoro essa brincadeira entre os dois porque, de fato, eles poderiam ter se conhecido em qualquer um desses lugares. Isso realmente importa? Existe diferença entre trocar cliques e trocar olhares em um bar? Entre mandar um “oi” seguido de uma carinha feliz e dar um “olá” seguido de um sorriso no ponto de ônibus? O amor segue em busca de oportunidades. De ligar pessoas, de cruzar caminhos, de aquecer os nossos corações, como um clique.
Sempre que me perguntam se acredito nesses amores da era dos aplicativos, gosto de dizer que acredito no amor. Em seus jeitos, artimanhas, em sua capacidade de nos encontrar onde quer que estejamos; no topo de um prédio ou no fundo de nossas solidões. Gosto de pensar que o amor não faz exigências, não tem modos, dedos com as coisas. O amor só quer que estejamos abertos, plenos e interessados em fazer parte dele. O amor só espera um sim discreto nosso, seja na fila do banco, no metrô lotado, domingo na feira, num hospital em chamas ou num clique esperançoso na tela do smartphone. Gosto de pensar que quem clica ali, no coraçãozinho, está na verdade colocando a mão sobre o próprio peito e dizendo: eu te aceito.
Título original: Um Clique