É preciso aprender a respeitar o silêncio do outro

Sempre achei a pergunta “no que é que você está pensando?” uma invasão tremenda de privacidade. Observei a vida toda os distraídos serem pegos de surpresa por esse questionamento tão desnecessário e invasivo em certos momentos.

Os calados incomodam. Incomodam e por isso, são incomodados. Foi o que aprendi a partir do momento em que passei a me reunir com aglomerados de pessoas em reuniões, encontros e festanças. Incomodam por pensarem demasiado e por observarem demais. Ao final da noite, é inevitável. Alguém comenta que você não falou quase nada e todas as cabeças se voltam para sua pessoa. “Você passou a noite só observando, não é? Agora fale alguma coisa!!!”. Eles dizem como se tivéssemos cometido um crime ao não expormos um tanto de nossas opiniões e histórias. A gente se sente assim mesmo. Como se tivesse cometido um crime.

Você que é considerado “expansivo”! Faça o exercício de calar-se um dia para ver. Será bombardeado. “O que tu tens hoje?”, “qual o teu problema?”, “o que foi que aconteceu?”. Se a resposta for “não foi nada” você provavelmente será acusado de estar mentindo. Pelo que vejo vida afora, parece que é inconcebível a ideia de que alguém esteja calado só por estar.

É que o silêncio inquieta. O silêncio constrange. O silêncio é uma interrogação perturbadora que não nos deixa deixar de questionar quem se deixa levar por ele. Tão complicado quanto a oração anterior, é entender que este silêncio, por vezes, precisa ser respeitado.

Tem gente que pede socorro silenciando, por outro lado, tem gente que acha seu conforto no silêncio. Há pessoas só precisam de pequeno empurram para entrar na conversa, outras nem adianta insistir. Alguns são simplesmente tímidos, outros, tímidos e calados. Neste último caso, bom-senso! Pra quê constrangê-los?

Às vezes, sim! Seu entende querido precisa de alguém para trocar algumas palavras, às vezes, está simplesmente viajando em seus próprios pensamentos e ideias e quer ser deixado em paz.

De fato, a paz de não ser o centro das atenções e poder conversar consigo mesmo é tudo que queremos em algumas situações.

Todavia, urge dentro de nós algo que quer a todo custo preencher os silêncios. Preencher nossos silêncios, preencher os silêncios dos outros. Por isso falamos, falamos, falamos. Falamos exaustivamente e invadimos sistematicamente a privacidade alheia para não dar de cara com o silêncio. Por que será?

Talvez seja por isso que a prática do respeito ao silêncio do outro se faz tão urgente em nós. Para descobrirmos o motivo de querermos evita-lo a todo custo. O silêncio do outro diz algo sobre ele sim, mas a dificuldade em respeitar este silêncio diz tanto quanto ou mais… sobre nós mesmos.

Imagem de capa: DmitryBelyaev/shutterstock

Mísia Morais

Paraibana (Campinense) estudante de Psicologia que tem a cabeça nas nuvens, pés no chão e um fraco por causas perdidas.

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