Imagem: Igor Salcov/shutterstock
Quantas vezes nos apegamos a sentimentos antigos? Quantas vezes nos culpamos por algum fato no passado? Quantas vezes não aceitamos o que está acontecendo neste momento? Quantas vezes sonhamos com um futuro diferente? Quantas vezes tentamos fugir de tudo que está à nossa volta?
Imagine que você tem um armário do tamanho do seu quarto, que esse armário lhe pertence desde que você se conhece por gente e que você tem a liberdade de guardar qualquer coisa e também de retirar qualquer coisa dele.
Imagine que o tempo foi passando e você foi guardando tudo lá: o que era bom, o que lhe servia, o que era importante, o que você ganhou, o que você passou, suas vitórias, suas descobertas, os seus gostos. Você também guardou o que fez sofrer, o que era ruim, o que não lhe servia, o que não era importante, o que você perdeu, o que você não gostou, suas derrotas, suas tristezas e suas preocupações.
Imagine que você foi guardando tudo sem uma organização e sem analisar se o que você guardava era realmente necessário, ou se isso hoje ainda seria útil a você. Que, por alguma razão, você guardou tudo o que o deixa triste nas primeiras prateleiras, na porta do armário ou em outro lugar fácil de lembrar. Você simplesmente não sabia que poderia organizar e, de certa forma, como gerenciar o seu armário, você só fazia o que foi lhe ensinado e o que viu todos fazendo, por repetição.
Ao saber que você é a única pessoa capaz de mexer em seu próprio armário, o que você poderia fazer?
Você pode entrar ali e olhar com compaixão, pode organizar tudo que está guardado, pode limpar, jogar fora o que não é mais útil — o que não cabe mais em você, na sua vida. Não é bom esconder tudo em um armário onde não está cabendo mais nada.
Ao longo da nossa vida, nós guardamos várias recordações, vários sentimentos, vários conceitos ou preconceitos, várias máscaras, vários “Eus”, vários gostos, várias histórias, várias mágoas, várias alegrias e várias tristezas em nossa mente. Nossa mente é rondada por esses pensamentos, sentimentos e sensações em todos os momentos. Qualquer acontecimento pode desencadear uma série de memórias ligadas ao nosso passado.
Para que hoje possamos ser livres do que nos aconteceu em outros tempos, é necessário deixar ir pensamentos, emoções e sentimentos. Não que tenhamos que procurar o prazer e fugir da dor, mas sim que possamos viver baseados no que está acontecendo no momento e não no que acontece agora em comparação ao nosso passado.
O PASSADO JÁ SERVIU AO SEU MOMENTO. É PRECISO DEIXAR IR EMBORA, SOLTAR-SE DISSO, DESPRENDER-SE.
É necessário deixar ir o que prende, o que o assusta, o que entristece, o que angustia e aceitar o que o momento está te trazendo. É preciso deixar ir o que não serve mais.
Tome consciência disso e deixe ir aquela pessoa, aquele conflito, aquela angústia, aquele vício, aquele prazer, aquele conforto, aquela estabilidade, aquela mágoa, aquela certeza, aquele falso você, aquele quem você já foi um dia.
Assim, você vai se descobrindo, criando-se e remoldando a sua verdadeira essência.
Diga a si mesmo que é preciso encerrar um ciclo para estar livre para um outro; que o que passou jamais voltará; que, a cada momento, tudo está mudando e que você não tem o controle. Que certas coisas não cabem mais na vida da pessoa que você é hoje e que é necessário soltar. Essa é a real mudança, de dentro para fora.
Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos que já se acabaram. As coisas passam e o melhor que fazemos é deixar que elas possam ir embora. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto, às vezes ganhamos e às vezes perdemos. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo — nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
Pratique o Desapego, de Fernando Pessoa.
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