Numa análise rasa, desde pequenos somos ensinados que persistência significa sucesso e desistir quer dizer que você fracassou. Avançar é progresso e parar é derrota. A verdade, porém, é um pouco mais sutil.
Quer se trate de um trabalho, empreendimento, relacionamento ou projeto, há razões perfeitamente válidas para que você queira os deixar. Se você tem um instinto que deve se retirar, muito provavelmente há uma boa razão por trás deste pensamento.
Claro, não existem regras rígidas e ríspidas sobre isso. Gosto sempre de frisar em meus textos que somos seres singulares e as situações que retrato variam de pessoa para pessoa. O que quero mostrar neste artigo é que se você está pensando em seguir em frente, principalmente no âmbito profissional, existem maneiras responsáveis de se fazer isso — e de saber a hora de sair.
Existe uma clara distinção entre tédio e apatia. O tédio é um estado de espírito que pode ser remediado por uma simples mudança de perspectiva — uma caminhada no horário de intervalo, uma sessão de brainstorming ou mesmo uma xícara de café. Apatia, por outro lado, é muito mais mortal. É um estado inconsolável e doloroso de desinteresse. Quando você sente que seu trabalho é totalmente vazio de significado, não há mais volta. É hora de pensar em suas possibilidades e avaliar o que você pode fazer para mudar de ares. Seja uma troca de emprego ou a criação do seu próprio negócio, só você pode decidir se está num barranco ou na ponta do precipício. O que não aconselho de maneira alguma — e vejo muitos gurus do empreendedorismo sugerindo isso — é que você simplesmente largue tudo. Demissão é um negócio sério e sem volta. É o tipo de coisa que deve ser feita de forma planejada e responsável. Não caia no conto de largar tudo e ir atrás do seu sonho. Você pode, sim, ir atrás dos seus objetivos — e sou totalmente a favor disso —, mas volto a frisar: de forma responsável.
O contrário é tão ou mais perigoso. Os tais dos workaholics são os viciados em trabalho. E sabemos que nenhum vício faz bem. Qualquer coisa em excesso é prejudicial. No caso do trabalho, muitas pessoas acabam sacrificando o tempo com a família e/ou com os amigos por causa de seus empregos. Tem os que viajam o tempo todo, tem aqueles que passam o final de semana resolvendo pepinos pelo celular e tem aqueles, nos casos mais graves, que deixam de acompanhar o crescimento dos filhos. Isso não significa, necessariamente — embora seja o mais indicado, que você deva abandonar seu emprego, mas sim estabelecer limites. Urgência e importância são coisas distintas.
Você talvez já tenha ouvido ou lido que “somos a média das 5 pessoas com quem passamos mais tempo“. O famoso palestrante motivacional Jim Rohn é o autor da frase que me inspirou a escrever um texto a respeito disso. O assunto é polêmico e não tem base científica, mas vale a reflexão. É sensato avaliar se o ambiente em que você está inserido está, de alguma forma, lhe prejudicando. Se você trabalha em tempo integral é provável que essas cinco pessoas sejam seus colegas de trabalho. Afinal, durante a semana muitos de nós passam mais tempo no trabalho do que em casa. Se seu ambiente de trabalho é particularmente negativo, você provavelmente será afetado. Considere as pessoas ao seu redor e o que pode ser feito para melhorar a situação. Se a resposta for “nada”, talvez seja hora de sair.
No bordão popular, o famoso peixe fora d’água. É a sensação de olhar em torno do escritório ou indústria em que trabalha e se perguntar “o que eu tô fazendo aqui?“. Você percebe que é algo além do que o fato de simplesmente não gostar do seu trabalho. Você não se sente parte daquilo. É aquela frase clássica de fim de relacionamento que aparece nos filmes: “o problema é comigo, não com você“. Neste caso, o problema não é o chefe, a empresa, os colegas ou o departamento. O problema está em você se sentir deslocado. Quando você está descontente com o seu trabalho, há sempre aquela esperança de que trabalhando duro algo bom acontecerá. Mas, se você está no caminho errado, a persistência não fará muita diferença.
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Existem muitas razões pelas quais você pode sentir desconforto no trabalho e sair não precisa necessariamente ser a resposta para todas elas. Mais uma vez, cabe a você realmente decifrar o que está acontecendo. O que vale para todas as situações é que você deve sempre se manter em movimento. Reclamar por reclamar não o levará a lugar algum.
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