As esquinas de qualquer lugar desse mundo estão repletas de uma curiosa e abjeta espécie em ascensão: especialistas em quase tudo, que sabem um pouco de alguma coisa, acreditam que são gênios da atualidade e não tem noção de quase nada. Se você acha que não conhece alguém assim, não caia na tentação de “cantar vitória” antes do tempo; essa espécie além de ser bastante popular, sobrevive em qualquer ambiente e se alimenta de qualquer coisa, desde que engorde seu ego obeso sem danificar sua consciência anoréxica.

O conhecimento é o bem mais valioso no mercado. Sempre foi. Mas, em uma sociedade que tem à sua disposição inúmeras ferramentas de acesso à informação, o conhecimento é o que define nossa capacidade de interpretar o mundo, por meio da análise, avaliação, validação ou rejeição da informação apresentada. É o conhecimento que oferece o único caminho de cura para a prática de comportamentos arraigados de preconceito e reprodução de modelos já ultrapassados e, muitas vezes, até fossilizados.

A ignorância é, assim, a irmã antagônica do conhecimento. Essa donzela tirânica mantém intactas crenças superficiais e pouco reflexivas que se perpetuam por exigir de seus adeptos pouca ou nenhuma postura crítica. A ignorância alimenta a falsa convicção de que ter acesso à formação acadêmica confere aos poucos que têm a chance ou a raça para chegar aos mestrados, doutadorados e pós-doutorados, a hegemonia sobre o destino do saber.

Contamos com uma legião de indivíduos que escolhem enxergar-se através de lentes capazes de superfaturar suas opiniões, posicionamentos e julgamentos acerca do que quer que seja. Tudo é passível de análise na tosca avaliação desses “intelectualóides de plantão”. Protegidos por muros muito bem construídos de arrogância, eles se isolam em saltos altos de saberes maniqueístas, incapazes de fazer contato com outros pontos de vista, resumindo o conhecimento a rótulos pré-fabricados de verdades absolutas.

O conhecimento mantém sua natureza primária ligada à importante tarefa de libertar. Enquanto aqueles que tiverem acesso a ele, continuarem usando-o como propriedade particular, não há esperança para a constituição de uma sociedade mais lúcida, equilibrada e menos egoísta.

Com enorme pesar, deparamo-nos cada vez com maior frequência com indivíduos cujas personalidades sofreram deformações advindas de seus infinitos sonhos de poder e popularidade. Afogados em seus próprios umbigos, sucumbem à própria vaidade, transformando-se em estrelas artificiais cuja luz não se sustenta, posto que se alimenta da volátil energia falsa que reside numa ilusória imagem de sabedoria.

Tal disposição para isolar-se em ilhas povoadas de seres cognitivamente superiores, pode revelar um curioso distúrbio de personalidade: o transtorno de personalidade histriônica. Esses indivíduos fazem uso de discursos impressionistas, têm necessidade de desempenhar papéis nos quais sintam que possuem algum poder sobre situações ou pessoas. Apresentam alterações de afeto, como alta reatividade emocional, sobretudo quando são questionados em suas condutas. Incapazes de receber críticas ou opiniões; sofrem de ansiedade oriunda da falta de habilidade para reconhecer o outro como capaz de ver além de sua avaliação do mundo.

Segundo Beck, Freeman & Davis (2005), o TPH compreende o único transtorno da personalidade relacionado com a aparência física. Pesquisas indicam que mulheres com TPH apresentam o juízo crítico prejudicado e imagens deturpadas de si mesmas, quando comparadas aos homens com a mesma psicopatologia. Trata-se de uma categoria de pessoas inseguras e que necessitam de constante atenção e aprovação externa. Por isso, a partir do momento em que a utilização de tentativas mais sutis de chamar a atenção não surtirem efeito, estes indivíduos poderão recorrer a medidas extremas, como ataques de raiva e comportamentos que visem humilhar e constranger aqueles que os contrariem.

Nesse exato momento da leitura, tenho uma notícia para dar a você: essa pessoa cuja fisionomia se desenhou em sua mente enquanto você lia, certamente faz parte daquela espécie lá do início do texto. Mas, tenha calma. Não há necessidade de falsos alarmes. É possível ficar à salvo do efeito sanguessuga dessa gente. Respire umas três vezes, antes de reagir às inevitáveis investidas e provocações. Mantenha distância afetiva. Não entre na mesma frequência de disputa pela razão, seria uma luta sem fim. E, o mais importante de todos os cuidados: deixe-a mergulhar sozinha em sua insana certeza de ter sempre razão. Afinal, um umbigo é um lugar demasiadamente apertado para um só, imagine para dois.

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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