Ela não quer nada demais, quer apenas sentir-se desejada pelo homem com quem divide a vida há vinte anos. Ela sente falta de beijos intensos que a façam sentir arrepios e borboletas no estômago. Sim, as mulheres precisam disso, isso é vida, é ressurreição. Ah, vale lembrar que esse marasmo na vida conjugal dela não é consequência da rotina. Em seu casamento, nunca houve fase intensa, por curta que fosse. O marido dela é, digamos, bem econômico em se tratando de afeto e libido.
Ela vive brigando com esse turbilhão de sentimentos e sensações. Não é fácil. Ora sente-se culpada por se imaginar em outros braços, ora sente-se refém da própria realidade. Ela sente-se como um móvel empoeirado dentro da própria casa. O marido não esboça interesse e desejo por ela. Uma mulher tão bonita e cheia de energia, tendo que brigar com os próprios hormônios porque o companheiro é uma espécie de analfabeto emocional. Verdade seja dita, esse homem entende muito pouco de mulher, quase nada. Ao contrário do que você possa estar imaginando, ele não tem outra mulher. É que ele é apático mesmo, aquele tipo de homem que parece não ter sangue nas veias.
Ela é o tipo de mulher que exala vida. Apesar da miséria afetiva e sexual que vive, ainda consegue sorrir com os olhos. Ela não está querendo nenhum absurdo. Ela só quer viver a sua sexualidade de forma plena. Ela é monogâmica e ama o marido, mas está vivendo abaixo da linha da pobreza nos quesitos sexo e afeto. O marido acha que é perfeito, simplesmente, por não deixar nada faltar em casa. Na realidade, não falta nada na mesa, mas, na cama, a situação está crítica. Um verdadeiro perrengue. A mulher está passando fome, desidratada e desnutrida.
Ela nunca estivera com outro homem, só conhece o marido. Até pouco tempo atrás, orgulhava-se disso. Contudo, já anda percebendo com outro olhar essa situação. A frustração, vira e mexe, a faz sentir-se um desperdício nas mãos desse homem. É que ele não é dado a carinhos, não sabe ou não gosta de demonstrar afeto e o sexo é aquele ritual cronometrado e, desanimadoramente previsível. Ele não tem pegada, ele não sabe lidar com o mulherão que tem nas mãos.
Não pense você que ela nunca se abriu com o marido sobre as suas carências. Ela já rasgou a alma, muitas vezes, aos prantos. Ele sabe, de cor e salteado, das necessidades dela. Contudo, insiste em fazer cara de paisagem. Ela se queixa da ausência de carícias e do sexo, meramente, fisiológico. Sim, ele está a par de tudo o que murcha essa mulher. Mas, nada faz para mudar. Ele acha que a esposa só precisa de um provedor em casa, e, como ela não possui independência financeira, ele deita e rola.
Sinceramente, acho que ele está brincando com coisa séria. Ela é bonita, e cheia de atributos. Sorte a dele que ela é conservadora e não saberia lidar com o peso de uma vida dupla. Oportunidades, para ela, não faltam. E é revoltante, para ela, sentir-se desejada na rua, pelos estranhos, e praticamente, invisível em casa, pelo marido.
Sobre o futuro, ela sente-se desnorteada, por mais que ela se esforce, não consegue enxergá-los juntos lá adiante. As mudanças ocorrerão, elas serão inevitáveis. Toda essa fome de amor e afeto acumulada na alma dessa mulher, há de se manifestar uma hora ou outra. Essa ânsia de vida que rege a sua essência ainda causará uma revolução, fato.
Ela anda cansada de implorar por afeto. Ela já não suporta mais dormir aos prantos de tanta carência. Ela precisa de um homem, não de um mero provedor. De migalhas em migalhas, ela sobreviveu até aqui, mas, ela já entendeu que merece muito mais dessa vida. Uma vez que ela já adquiriu essa consciência, tudo indica que será um caminho sem volta. A vida vai, aos poucos, se descortinando para esse mulher.
Ofereço a ela a minha empatia e todo o meu acolhimento. Desejo que ela seja muito feliz e amada, ela merece, ela nasceu para isso. Acredito que ainda ouvirei de sua boca, não mais os desabafos chorosos, mas, a narrativa eufórica de algo que a surpreenda de verdade.
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