Certa vez ouvi a seguinte pérola de uma criança que incrédula comentava: “Coitada da minha irmã! Ela era parecida com a minha mãe. Mas agora não se parece com mais ninguém!”. A tal mãe era casada com um talentoso cirurgião plástico; e, aproveitando o parentesco, transformou-se em outra pessoa, no mais literal sentido do que possa querer dizer essa expressão.
Tudo começou com uma correção de nariz. A moça tinha as feições características daqueles nossos belíssimos irmãos que vêm, em sua maioria, do Líbano. Mas não era nada satisfeita com sua escultura nasal. Vai daí que escolheu o nariz da Sandra Bullock e começou por aí a reforma estética em si mesma, tudo orquestrado e executado pelo apaixonado marido.
Ocorre que o novo nariz não ficou assim, como direi, em harmonia com o queixo; que agora, comparado à delicadeza do novo atributo facial, passou a parecer muito proeminente, anguloso demais, pontudo demais. Bem melhor seria ter um queixo tipo Natalie Portman, delicadíssimo!
Cirurgia radical essa de transformar um queixo X em outro queixo Y. Serra-se alguns ossos, desgasta-se outros, desencaixa-se mais alguns. A pessoa volta da cirurgia com aparência de quem deu de cara com um muro. Abrir a boca?! Nem pensar! Dias e dias alimentando-se por meio de um canudinho. Pior foi que a moça achou isso ótimo; afinal, de quebra, perderia alguns quilinhos.
Do queixo para o projeto de novas bochechas foi uma questão de tempo. Imagine só ter as maçãs do rosto com a personalidade de uma Angelina Jolie?! Desejo feito, desejo atendido!
Depois foi a boca, que ficou parecendo muito mixuruca no meio daquela obra de arte composta por um nariz escultural, mais um queixo angelical, mais umas bochechas de parar o trânsito… E dá-lhe preenchimento! E já que estamos com a seringa na mão… não é mesmo? Capricha aí, doutor! Assim a anterior descendente de libaneses queria lábios carnudos iguaizinhos aos de Scarlett Johansson.
E, sim… todas essas mulheres são lindíssimas! Ícones de beleza da nossa época. Símbolos da perfeição feminina que nos coloca de posse de uma autoestima em perigo, dados os parâmetros inalcançáveis a que nos submetemos. São todas maravilhosas, é verdade… Mas, cada uma com a sua cara, certo? Juntá-las todas numa pessoa só, acaba por constituir um novo modelo de Frankenstein, só que com retalhos de celebridades do tapete vermelho.
Não. Eu não tenho nada contra a pessoa ajeitar uma coisinha ou outra que a incomode em sua estética original. Aliás… eu não tenho nada com isso! Mas… diante dos exageros que ando vendo por aí, penso que não custa nada uma pequena reflexão: Afinal, o que leva uma pessoa a rejeitar tão drasticamente a si mesma! Eu acho assustador! Só acho…
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