Há 42 anos, a egípcia Sisa Abu Daooh deixou de lado os vestidos, a maquiagem e os cabelos longos. Quando seu marido morreu, ela se viu sozinha, com uma filha para criar, em um país em que, na época, mulheres não podiam trabalhar. A decisão foi bastante óbvia (e corajosa!): para conseguir um emprego e poder sustentar a filha, Sisa decidiu se passar por homem.
Na cidade de Luxor, ela trabalhou por mais de 7 anos na construção civil, realizou pesados trabalhos braçais – com os quais conseguia ganhar pouco mais de 1 dólar por dia -, sentou nos cafés e rezou ao lado de homens, vestindo sua tradicional túnica, conhecida como galabeya. Durante todo esse tempo, apenas sua filha, alguns familiares e vizinhos sabiam do segredo, segundo o NY Times.
Hoje, aos 64 anos, trabalhando como engraxate e orgulhosa por ter conseguido criar sua filha de forma digna, Sisa decidiu revelar sua real identidade publicamente. Não, ela não pretende voltar a usar roupas femininas ou deixar o cabelo crescer – esta ainda é uma forma conveniente de evitar situações em que o machismo impera.
Entretanto, ela teve medo quando a polícia egípcia começou uma forte onda de repressão contra homossexuais, travestis e transgêneros. Sisa fez questão de deixar claro que o uso das roupas masculinas nada tem a ver com sua sexualidade e o esforço da dupla identidade para superar uma sociedade machista lhe garantiu até mesmo uma condecoração oficial.
A ação de Sisa para que ela e sua filha sobrevivessem é incrível. Contudo, ela é apenas uma em um país que ainda sofre muito com preconceito de gênero – hoje, apenas 26% das mulheres egípcias trabalham, contra 79% dos homens. Para o Egito, infelizmente, condecorar uma mulher que precisou passar 42 anos se fingindo de homem é mais fácil que propor ações para combater a cultura machista.
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