Imagem capa: Gree
Nunca se falou tanto sobre o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Cada vez mais pessoas têm se dado conta de que seus trabalhos das 08h às 18h não fazem sentido. Alguns, como eu, migraram para o home office. Mas, a verdade é que, infelizmente, poucos trabalhadores têm essa opção. E é óbvio que trabalhar em casa, como qualquer outra coisa, tem seus prós e contras. Não é fácil. Pelo contrário! Porém, a melhora na qualidade de vida compensa. E muito. Mas isso é assunto pra um próximo texto.
Sou um cara que adora ler biografias e histórias de gente que começou do nada e teve sucesso na vida. São inspiradoras. Muitas vezes nos dizem o óbvio, mas nos impulsionam a ir além. É comum ler depoimentos desses homens e mulheres sobre sacrifícios que tiveram que fazer no início de suas carreiras. Até aí tudo bem. Não existe sucesso sem trabalho duro. Eu mesmo, em 2016, sacrifiquei várias horas livres não-remuneradas para escrever artigos. A recompensa veio no final do último ano, quando fui eleito o terceiro brasileiro mais influente do LinkedIn pela própria rede profissional.
Hoje, meu trabalho é escrever. Porém, não tenho mais a necessidade de sacrificar horas livres. Como freelancer, não tenho chefe e faço meus horários. Para evitar a procrastinação e ter melhores resultados, criei um expediente e escolhi trabalhar das 09h às 18h. Inclusive, deixo isso bem claro para meus clientes. Não adianta me mandar mensagem no WhatsApp depois das 18h ou nos finais de semana que não vou te responder (e isso também é tema pra outro texto). Eu poderia ganhar muito mais dinheiro se aumentasse minha carga de trabalho para 12h diárias, por exemplo, ou se desse palestras em outras cidades e estados. Teria mais clientes, escreveria mais e, consequentemente, seria mais bem sucedido.
Pra mim é, justamente, equilibrar vida pessoal e trabalho. Hoje não tenho um super salário, mas tenho equilíbrio. Não faço horas extras, não trabalho nos finais de semana e posso passar mais tempo com minha esposa, minha família e meus amigos. E tô feliz pra carvalho assim.
No início do mês a Forbes da China divulgou seu ranking anual com as 100 mulheres que mais se destacaram nos negócios no país asiático. A executiva Dong Mingzhu ficou em primeiro lugar. Ela é presidente da Gree Electric Appliances, a maior fabricante de ar condicionado chinesa, cujo valor de mercado é de aproximadamente US$ 22 bilhões.
Mingzhu, de 62 anos, de acordo com uma reportagem recente da Quartz, está à frente da organização desde 2001, onde lidera mais de 70 mil pessoas. A chinesa que ingressou na empresa como vendedora no início dos anos 1990 viu a Gree, sob seu comando, se tornar uma gigante em seu segmento — 2 de cada 3 aparelhos de ar condicionado vendidos na China são produzidos por eles.
Inspirador, concorda? Começar de baixo e chegar até a presidência da empresa, sendo responsável direta por seu crescimento avassalador. Eu realmente adoro esse tipo de história. Palmas para a querida Dong!
Ela deve, no entanto, ter sacrificado algumas coisas para chegar até lá, né?
27 anos. Essa é minha idade. E em 2017 também será o tempo desde o último dia livre de Dong Mingzhu. A executiva não pega férias ou mesmo tira um dia de folga desde quando começou a trabalhar na Gree.
Nessas quase três décadas (caraca, também tô com quase 30 anos) ela sacrificou algumas coisas. Mingzhu é viúva desde 1984. Seu filho tinha oito anos quando ela ingressou na Gree. O menino foi morar com a avó e, desde então, ela deixou de ir em todos seus eventos escolares. Incluindo formaturas. Há alguns anos o garoto, hoje adulto, se formou na faculdade. Ela não estava lá. Tinha uma reunião que parecia ser mais importante.
“Sem alternativa“. Essa é a resposta que Mingzhu costuma dar em entrevistas quando é questionada sobre seu estilo de vida workaholic. Para ela, “não há alternativa a não ser continuar na Gree por toda a vida”. Pô, Dong! Como não, cara? Você tá cheia da grana! Vamos sair dessa zona de conforto e curtir um pouco a vida?
A chinesa costuma dizer, ainda, que “terá muito tempo para descansar quando se aposentar” — torço por isso, Dong, afinal, nem preciso mencionar os problemas de saúde causados por excesso de trabalho, né?
Um funcionário da Gree afirmou ao Telegraph, em 2009, que “Ela passou por tudo isso sozinha. Nunca ousamos dizer que algo é impossível na frente dela. Todos nós temos que ter vontade de ter sucesso“. O discurso é bonito, mas pense comigo. Que alternativa seus 70 mil funcionários tem a não ser seguir seus passos como workaholics? O resultado do estilo de vida de Mingzhu certamente afeta todos seus subordinados e suas vidas pessoais.
“Não tenho amigos porque não posso ter amigos“. Essa frase, presente em sua autobiografia lançada em 2006, mostra o vazio que parece ser a vida de Dong Mingzhu. Imagine que você vai morrer essa noite. Os anos em que você esteve na Terra valeram a pena? Sua vida valeu a pena ser vivida? Com quem você gostaria de passar suas últimas horas? O que você gostaria de fazer?
A morte é a única certeza que temos na vida. E ela também pode ser um grande motivador.
Como assim?
Pessoas como Dong parecem viver a vida no automático. Trabalhando como loucos, gerando riqueza material e colocando o dinheiro à frente de tudo e de todos com a desculpa de que terão muito tempo para descansar quando se aposentarem. A questão é: e se esse dia não chegar? E se você trabalhar tanto ao ponto de morrer por causa de um ataque cardíaco? Se o estresse causado pelo trabalho lhe deixar sequelas ou mesmo afastar de você as pessoas que ama?
A executiva chinesa do texto pode ter muito mais dinheiro que eu e ser capa da Forbes, mas sou muito mais rico e bem sucedido que ela. E por rico não falo de grana, claro.
PS1: Evidentemente, a tal da Dong Mingzhu pode fazer o que quiser da vida dela que eu não tenho nada a ver com isso. Meu ponto com o texto é questionar esse modelo de sucesso profissional à todo custo.
PS2: Hoje vou tirar a tarde de folga.
PS3: E é exatamente isso que tô afim de fazer, jogar um pouco de PS3.
PS4: Tenho outras prioridades no momento, tô feliz com o meu PS3.
PS5: Quando será que sai, hein, Sony?
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