Fosse eu o presidente do mundo, baixava logo uma lei irrevogável: “a partir de agora, ficam banidas todas as armas de fogo da face da Terra e revoguem-se as disposições em contrário”. Assim, simples e fácil de traduzir em todas as línguas. Incontestável e definitivo.
A cada recanto do planeta, toda pessoa que possuísse uma arma letal seria convidada a entregá-la voluntariamente, em pontos de coleta espalhados por dezenas de milhares de cidades em todos os continentes, num prazo mínimo de meia dúzia de dias. Concluído esse tempo, grandes veículos equipados com poderosos eletroímãs circulariam pela terra, pelo ar e pelo mar arrastando de cantos insuspeitados os revólveres escondidos, as espingardas sonegadas, pistolas esquecidas, metralhadoras camufladas, fuzis disfarçados e toda sorte de armamentos não declarados.
Das toneladas de materiais apreendidos, os metais seriam derretidos e transformados em balanços, gangorras e escorregas para as crianças nos parques. Aos jovens e adultos e velhinhos, as armas destruídas renderiam confortáveis bancos de praça de onde se possa apreciar o movimento. Já a madeira perdida nos cabos das armas viraria cadernos e livros para escolas públicas em todo o mundo.
Nas esferas governamentais, mísseis, bombas atômicas e outros artifícios de destruição seriam destroçados sem pena. A indústria de armamentos fecharia as portas, dispensando seus funcionários para o trabalho em fábricas de fogos de artifício, única utilização possível para a pólvora a partir de então.
Afastada toda gente das armas, eu daria início ao desarmamento das almas. E ninguém mais perderia seu tempo tão curto na vida atacando ou se defendendo. Porque atacar seria patético e defender não seria preciso. Nas escolas, as crianças aprenderiam a ajudar e não a competir. Nas empresas, as metas seriam tirar pessoas das ruas em vez de enfiar dinheiro nos cofres. Nos cargos públicos, os políticos abririam mão de seus salários para o bem da comunidade. E em cada canto viveríamos assim: como unidade.
Desse dia em diante, matar e ferir o outro seriam aberrações bissextas e não ocorrências banais. Pessoa nenhuma levantaria a voz ou a mão a quem quer que fosse. E se ainda assim alguém, num repente de burrice extrema, quisesse fazer a guerra, teria de recorrer a paus e pedras, fundas, estilingues e tapas, até sentir vergonha de estragar a vida em pendengas ridículas como todo embate violento.
Aos poucos, pela força do hábito e a boa vontade de cada um, compreenderíamos que se as pessoas se amassem mais, se um amor incontrolável e total nos tomasse de assalto, não haveria mais “mocinhos” nem “bandidos”. E ninguém mais precisaria se armar porque todos estariam ocupados em amar uns aos outros. Todos estaríamos entregues ao ofício de dar e receber amor por aí.
Eu faria assim.
Mas como eu não sou o presidente do mundo, e tudo indica que esse cargo não vá existir jamais, vou torcendo daqui pra que a gente se arme menos e se ame mais. Eu torço, sim. É o que eu posso fazer por enquanto.
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