A empresária Juliana Carvalho Lopes deixou uma carta póstuma para ser lida na sua própria cerimônia de despedida, antes de falecer vítima de câncer. A carta é um relato emocionante sobre como Juliana enxergou a vida depois do diagnóstico da doença.
Ao ler a carta, amigos e familiares encontraram conforto na partida de Juliana. Ela foi altruísta mesmo debilitada pela doença, se preocupando em confortar os que ficaram. “Meu objetivo, desde o meu diagnóstico, foi desmistificar a doença, o processo e o fim da vida”, escreveu ela na carta.
Juliana enfrentou um câncer de intestino e passou por oito procedimentos cirúrgicos para combatê-lo. Quando ficou claro que a doença era irreversível, ela recebeu cuidados paliativos para tentar amenizar a dor.
Antes de falecer, em 4 de março, mesmo abatida pela doença, Juliana organizou uma grande festa para 150 pessoas. Foi em fevereiro, na segunda-feira de Carnaval. Seu marido, Márcio Antunes, contou que para Juliana, aquela era a festa de despedida.
A carta deixada pela empresária foi enviada por e-mail para uma das irmãs dela, dias antes de Juliana falecer. Na mensagem, ela pedia que a família só abrisse a despedida após a sua partida. “Sei, humildemente, que sentirão saudades da minha presença, das minhas patifarias, da nossa convivência, eu já estou… Mas espero que se apeguem às nossas pequenas lembranças, nossos momentos de alegria e risadas, nossas trocas”, dizia a carta.
Juliana viveu seus últimos anos com dignidade e alegria, apesar da doença. “Eu sempre soube que ela era forte, mas parece que enfrentar o câncer transformou ela em uma coisa muito maior. Tudo que ela tinha de potencialidade foi amplificado”, disse o marido.
“A minha hora chegou. E tá tudo bem, gente. Tive a oportunidade e o privilégio de me preparar pra ela. Me redescobrir e receber o melhor das pessoas. Essa é uma despedida honesta e, absolutamente, grata. A despedida de uma vida linda, cheia de sentido, de amor e das pessoas mais especiais que eu poderia ter tido o privilégio de conviver. Minha família, minhas amigas e amigos e tanta gente, que apesar da pouca intimidade, se fez tão presente, com gestos, palavras, orações, força.
Durante o tratamento, passei por muitas fases aqui dentro de mim. E, felizmente, encontrei as minhas próprias ferramentas psíquicas para lidar com o câncer e com as pessoas da minha vida. E fui sustentada pela força, o afeto, a parceria e o amor de vocês, cada um à sua maneira. E passei a tentar compreender os sentimentos e emoções das pessoas que me cercam, me atrevendo a entender e experimentar, da forma objetiva, racional, mas também, empática, o que sente o outro. Pra mim, funcionou, espero que pra vocês também. Uma certeza, morri cheia de gratidão no coração e cercada das melhores pessoas.
Aliás, se eu puder deixar um pedido, desmistifiquem o câncer ou outra doença grave. Desmistifiquem a morte, afinal, ela é o maior clichê da nossa vida. Meu objetivo, desde o meu diagnóstico foi desmistificar a doença, o processo e o fim da vida. Acho que funcionou, vocês entenderam e eu vivi os últimos anos com dignidade e alegria apesar do câncer. E como eu sempre repetia – com todo respeito a dor e a maneira que cada um tem de lidar com seus perrengues – é possível, sim, ser feliz com câncer. Eu fui.
Um recadinho para quem me acompanhou no trecho: Sei humildemente que sentirão saudades da minha presença, das minhas patifarias, da nossa convivência, eu já estou… Mas, espero que se apeguem as nossas pequenas lembranças, nossos momentos de alegria e risadas, nossas trocas. Construam nossas memórias. Espero ter deixado material pra isso. Para carregarem um pouquinho de mim em cada um de vocês (só a parte boa!), mas com alegria, sem drama. Vocês sabem que drama nunca foi meu forte.
Li, certa vez, que “o luto é o preço do amor”. Eu, só posso agradecer o tanto de amor que vocês me dedicaram. E desejar que vocês, meus amados e amadas, vivam esse luto, do jeito mais leve e alegre que vocês puderem, assim como eu levei a vida.
Sabe qual é a maior homenagem que vocês podem fazer a mim? É honrar as suas próprias vidas, com honestidade nas relações, alegria, integridade, empatia, amor e muita diversão, claro! Aliás, depois da minha despedida, se juntem e vão tomar um chopp, ouvindo um samba e falando bem de mim. O da minha mãe é escuro.
Eu deixo chorarem a minha partida, faz parte. Mas, acima de tudo, celebrem a minha vida. Estou em paz. Fiquem também”.
Com informações de G1
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