Como propósito define-se uma intenção, um projeto ou um desígnio, aquilo que se busca alcançar. Um objetivo, uma finalidade ou um intuito.
Encontrar, não qualquer propósito, mas aquele que norteia nossa vida deveria ser uma premissa para todos nós, contudo quase sempre não o é. Muitas vezes fazemos o que tem que ser feito e nos perdemos em meio a esse fazer cotidiano.
Contudo encontrar nosso grande propósito não é corriqueiro ou compulsório, não nos surge sem que estejamos atentos, pelo contrário. Para descobri-lo não devemos nunca apontar para terras distantes, mas emergir de cabeça nos profundos oceanos do nosso eu. E para mergulhar em nós, devemos antes calar o mundo para nos fazer ouvir.
O propósito mora sempre em nossas aptidões e nunca nas poltronas que nos apontam os outros. Se por um instante vocês pensaram no propósito de vida que os norteia e imaginaram que ele pode ser facilmente desempenhado por outro, talvez vocês estejam pensando em um encargo e não em um propósito.
Para encontrar nosso propósito devemos permitir que a vida sussurre aos nossos ouvidos através de nossa voz interior.
Quando a vida nos fala é mais provável que encontremos nosso propósito do que quando ditamos planos minuciosos para ela.
Esse sussurro dela para nós quase sempre começa com uma vontade curiosa e se transforma em algo que não podemos negar. O chamado da vida nos coloca no caminho para o nosso propósito e, apesar de existir muita felicidade em trilhá-lo, seguir esse caminho intuitivo não é nada fácil. Quase sempre ele vai em um sentido contrário ao que parece sensato, algo que pode fazer com que sejamos desacreditamos, contudo não devemos protelá-lo ou pensar que é inviável, pelo contrário. Muitas pessoas deixam-se convencer de que o caminho que escolheram é equivocado e por essa razão optam por seguir o script do mundo, assumindo carreiras e encargos que apesar de preencherem a vida, trazem um imenso desânimo e um grande vazio.
E, sabendo o mundo desse vazio frequente que nos toma quando distantes do nosso caminho, ele em sua leviana benevolência nos sugere falsos propósitos ao longo da vida. Muitas vezes o mundo nem mesmo precisa vir até nós com essas ofertas grátis de propósitos rasos, somos nós que afoitos buscamos por eles para mascarar dores e questões interiores mal resolvidas.
Devemos resistir à vontade de abraçar uma causa efêmera, pois assim estaremos aceitando, conformados, uma vida infeliz.
Um outro fato bastante engenhoso na abstração do nosso propósito maior é o de que muitas vezes somos levados a fazer escolhas importantes precocemente, quando adolescentes por exemplo. Isso não ajuda muito no quesito “ser feliz”, já que nossas escolhas nessa fase se firmam sobre conceitos e não sobre a vivência efetiva do que somos. Nesses casos a chance para o erro é bastante grande.
Outra questão que faz com que deixemos o nosso grande propósito de lado está ligada às expectativas dos outros a respeito de termos ou não uma carreira rentável, uma família e filhos. O mundo adora criar um roteiro para nossos passos e muitas vezes, por nos parecer mais seguro e confortável, resolvemos segui-lo sem muitos questionamentos. Dessa forma largamos mão de acreditar em nossa capacidade de superar desafios e tomamos desatentos o caminho do conformismo.
O real propósito mora no silêncio e não no murmúrio que se exalta. O nosso grande propósito se desenha em cada passo que damos e não nasce da necessidade de ganho financeiro, de reconhecimento ou de aceitação.
Hoje em dia o silêncio é muito raro, contudo nos é essencial se quisermos tocar o propósito maior de nossa vida. Parece que tudo conspira para propiciar o barulho e a falta de concentração que advêm dele. A essência da vida mora no silêncio, em nossa contemplação calma acerca de tudo que somos. No silêncio estamos despertos para alcançar dentro de nós respostas para perguntas que nunca nos fizemos. No silêncio acordamos para a realidade que só nos diz respeito. É nele que as informações que recebemos na vida se convertem em ensinamentos.
Se temos em mente encontrar nosso real propósito, é importante que aprendamos a ouvir nosso inconsciente e não o desprezemos. Emoções, intuições, impulsos e sensibilidades muitas vezes nos gritam alto, contudo comumente os ignoramos em detrimento de um objetivo pequeno, que nem de longe diz das nossas capacidades e de nosso verdadeiro propósito.
A psicóloga americana Shelley Prevost, terapeuta do Lamp Post Group, listou em um artigo alguns sinais que denunciam com maior nitidez se estamos caminhando no sentido de alcançar nosso real propósito ou se estamos dando passinhos equivocados nessa direção.
De acordo com a profissional, atingir o grande propósito de nossa vida nos traz excitação e satisfação, em maior ou menor grau. Dessa forma Shelley aconselha que verifiquemos se os momentos de alegria, curiosidade e contentamento estão superando os de tédio, frustração e desespero em nossa vida.
Para Shelley a vida nos mostra muitas vezes qual o nosso propósito e para isso é importante que prestemos atenção a ela e em como as pessoas em nossa volta se portam com relação a nós. Vou dar um exemplo, sempre em minha vida fui procurada para aconselhar e indicar soluções. Julguei que isso tinha a ver com meu antigo trabalho como orientadora em museus, contudo ainda hoje quando saio de casa sou parada frequentemente por desconhecidos que buscam algum tipo de orientação.
Outra questão abordada pela psicóloga é que o verdadeiro propósito não visa benefícios financeiros, não se engendra buscando obter algum retorno. Ele se faz pela energia que existe em nós em fazê-lo. Ela ainda menciona que o real propósito nunca desmerece ou diminui os outros.
Construímos nosso caminho evolutivo com nossa capacidade de colaborar, de nos comprometer e amar e no caminho de nossa felicidade não poderia ser diferente!
Eu desejo do fundo do coração que todos tenhamos claro em nós o grande propósito de nossa vida e termino esse texto com uma passagem do filme “Hugo Cabret”, no qual duas personagens discorrem lindamente acerca do propósito:
– Propósito. O que significa?
-Tudo tem o seu propósito até as máquinas. Relógios dizem as horas, trens levam a lugares. Eles fazem o que nasceram para fazer. Por isso máquinas quebradas me deixam tão triste. Elas não fazem o que nasceram para fazer. Talvez seja igual com as pessoas. Se você perde o seu propósito é como estar quebrado…
-Eu me pergunto qual seria o meu propósito… Eu não sei qual é.
– Máquinas nunca vem com peças a mais. Elas sempre vem com a quantidade exata de peças. Então certo dia eu pensei que se o mundo todo fosse como uma grande máquina, eu não podia ser uma peça a mais. Eu tinha que estar aqui por alguma razão. Isso significa que você também está aqui por alguma razão.
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(Imagem Meramente Ilustrativa)