Por Patrícia Dantas
Como é olhar o infinito e ver um ponto em branco ou pontos de cores variáveis, sem palavras para defini-los? É o estranhamento que parte das nossas maiores inquietações diárias, o desconhecido ameaçando nossa ordem imposta por uma sociedade que se diz saber muito bem o que quer, trazendo uma cartilha explicativa e cheia de normas nas mãos: de como se deve ser e agir perante o mundo e as pessoas que cruzamos todos os dias, seja na rua, no trabalho, com os amigos, enfim, a diversidade de seres que podem surgir a cada momento e fazer parte do nosso cenário. A cartilha do encontro.
São nesses pontos em branco dispersos, que se movimentam velozmente no espaço e tempo, sem definições palpáveis por nossos sentidos, que a jornada se apresenta com muitas curvas labirínticas, e exige de nós muito mais além do medo de ultrapassar: requer a coragem do desprendimento e ir em busca de si.
Como perceber algo que está além de nós, e pode ser visto através da nossa janela, sem que isso nos traga maiores danos? É ver o que está por trás das ilusões e falsas realidades. É sobretudo redescobrir o que está encoberto por outras coisas que são necessárias diariamente. É nossa válvula de escape que existe e nos torna um pouco loucos quando damos um sinal positivo: “pode explodir, fique à vontade, siga em frente!” Uma permissão, nada mais.
O que importa é a busca e os encontros permitidos. Se conseguirmos uma mínima compreensão da gente – com toda essa diversidade e imensidão de pontos cheios de vida e significados a nossa frente -, então os caminhos das surpresas estarão a nosso favor. O imprevisível toma ares de um ser bem-vindo que fará parte da nossa história – e não necessita de muito entendimento -, porque algumas situações precisam somente da existência para complementar nossa essência.
A essa altura, o que pensamos que somos, como buscamos o entendimento do passo real que tateia a vida no mundo? Do nosso passo tão ensurdecedor e palpável? Precisamos muito além das válvulas de escape da realidade: escapar para além das aparências e ver com o sentido mais delineado e acabado o que faz a gente ser o que somos de verdade.
Com imperfeições, percepções difusas, instintos e desejos, trazendo muito da fera canina e muito homem humano dentro de si, como vivia lobo da estepe de Hemann Hesse, na suprema dualidade dentro de si, embora em alguns momentos alguém falasse mais alto. Talvez nos mostrando como uma imagem tão íntima, mas que não reconhecemos na maior parte do tempo: a única que nos torna aceitáveis diante da gente quando não temos medo do outro.
Assim, é possível conviverem o lobo e o humano no mesmo corpo, espreitando um êxtase supremo de explosão do que realmente se é, mas jamais por completo, sempre com uma reentrância impenetrável e indescritível.
E nós continuamos, insaciáveis, sempre em busca de respostas e outras compreensões que nos aproximem o máximo do sentir em profundidade – com todas as forças e sensações provocadas -, até mesmo acontecimentos que beiram a linha tênue da incompreensão.