Imagem: Orla/shutterstock
A solidão não se comporta bem nos encontros. Fale por ela antes que seja tarde. Ela tem necessidade de justificar sua condição, por vezes tímida, acuada, mas, em outras, até mesmo agressiva e mal educada.
Podemos ser solitários, mas jamais seremos somente isso. Solidão é uma condição complementar, não primária. Se ela tomar a voz em todas as decisões, acabará por nos soterrar e nos fazer dignos de piedade.
Todo mundo tem uma parcela de solidão na vida. Passatempos solitários, opiniões solitárias, sonhos, principalmente sonhos, adoravelmente solitários. Solidão não é virtude nem defeito. Só que é perigosa porque quer crescer e tomar um lugar e uma voz que nos afasta de tudo e todos.
É bacana conviver amistosamente com a solidão, Por vezes é melhor companhia e ainda nos conforta e aquieta. Mas jamais pode ela nos afastar do que precisamos ou queremos.
Quando a solidão encontra a carência, ela devora. Se for com a indiferença, ela repele. Com o amor – e por mais que ela tenha vontade de se entregar – ela vacila. Sabe que pode vir a ser o seu fim. É hora de entrar em cena e tomar o controle das decisões. O amor chega, pede para ficar, mas dificilmente entra em luta com a solidão.
Amor é janela aberta, solidão é portão trancado. Se não se passa sequer do portão, jamais se saberá a vista que a janela oferece.
Mas, por gratidão ou educação, é sempre bom lembrar as contribuições da solidão em cada vida. Momentos únicos para tentar decifrar os códigos de convivência, instantes de lembranças mágicas, ideias nascidas do silêncio. Má a solidão não é. Um pouco devoradora, talvez.
Se estiver bem educada e ensinada a ter seu próprio lugar, as chances de que cresça além da conta diminuem muito, e, com sorte e um pouco de amor, é possível que ela ignore as ameaças à sua sobrevivência e se transforme em outra coisa, uma pequena e saudável escapada, por exemplo.
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