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Entre o bom e o ruim há mais do que se imagina

Há pessoas que dão a impressão de terem nascido com um humor privilegiado, uma capacidade maior de superar obstáculos, uma resistência especial para enfrentar quaisquer circunstâncias. Sem contar que nunca parecem cansadas, estão sempre sorridentes, arrumadas e perfumadas, prontas para a próxima festa. Outras parecem caminhar pela vida acompanhadas por uma nuvem negra. Para estas, o copo está constantemente meio vazio, e lembram a hiena do desenho Lippy e Hardy, sempre repetindo: “Ó dia, ó vida, ó azar, eu disse que não ia dar certo.”

Mas tanto a percepção de indivíduos que parecem ter saído de um comercial de margarina quanto a dos eternos pessimistas não correspondem à verdade. Todo mundo reage a estímulos externos e está sujeito a oscilações de humor. O que diferencia as pessoas é a forma como pensam e sentem as adversidades. Todos têm seu dia ruim, quando nada parece dar certo, mas é a intensidade e a frequência das respostas emocionais que vão definir os comportamentos das pessoas e sua qualidade de vida.

Se os contratempos se repetem, as frustrações se avolumam e a balança do cotidiano parece pender com mais constância para o lado negativo, a resistência a tais dificuldades pode sobrecarregar o indivíduo, atrapalhar suas noites de sono, modificar seus hábitos alimentares, causando-lhe estresse, ansiedade e depressão. Ele fica mais vulnerável às dificuldades e passa a dar um peso exagerado a tudo, desde problemas no trabalho e de relacionamento a aborrecimentos comuns no dia a dia, como engarrafamentos, atrasos, telefonemas inúteis para operadoras de telefonia. Irrita-se e sofre por qualquer motivo e olha tudo com lentes de aumento, supervalorizando defeitos e pequenos deslizes em si mesmo e nos outros.

Quando se é dominado por longo tempo pela sensação de desvalor, de ser inadequado, falho e indigno de afeto; por insegurança, medo, dúvidas, tristezas e pensamentos repetitivos de culpa e ressentimento que, em vez de refletir a realidade, a distorcem, deve-se considerar a possibilidade de haver desenvolvido um transtorno e ser indicado procurar tratamento psicológico. Segundo Epicteto (filósofo grego, século 1 d.C.), “O que perturba o ser humano não são os eventos, mas a interpretação que se faz deles.” Já ia me esquecendo. Sobre as pessoas referidas no início do texto, que veem tudo em cor-de-rosa, como Pollyanna, personagem símbolo de superação e otimismo, que nunca reclamam nem se indignam com injustiças e maldades dirigidas a elas, também podem se beneficiar de psicoterapia. Afinal, quanta raiva e insatisfação estarão escondidas pelo eterno sorriso de anúncio de creme dental?

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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Maria Cristina Ramos Britto

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