Temos o costume de pensar que envelhecer é um caminhar para o fim, é um definhar, murchar, envergar. Quando jovens, a nossa visão mais à frente na vida, o nosso marco de chegada é o topo da montanha (as conquistas que este mundo ainda nos reserva). Quando velhos, a nossa visão mais à frente, o nosso marco de chegada (ou partida) é o vale, a desconhecida planície para onde não queremos caminhar, mas que a gravidade e o tempo se incumbem de nos empurrar, e que representa o fim das aventuras.
Pensamos que, depois do ápice adulto da vida, o caminhar da velhice é um declive, o corpo vai se curvando, a pele enrugando, o pensamento falhando, a importância diminuindo, a vida esvaecendo.
Mas eu gosto de pensar no ato de envelhecer não como o caminhar na montanha, com subida, ápice e descida. Gosto de pensar no envelhecer como o amadurecer de uma árvore, que se fortalece com o tempo, solidifica, e através das sábias curvas de seus galhos que souberam perseguir a luz do sol, acabou aprendendo a chegar mais perto do céu.
Gosto de pensar na velhice não como perda, mas como soma. Me parece que, pelo menos para quem gosta mesmo da vida, envelhecer não é perder a juventude, mas é um somar de personalidades, traços, fases, tempos, eus…
Envelhecer é um agregar, é possuir nesse mesmo corpo gasto, todos os seres que aqui habitaram um dia: a criança, a jovem, a adulta. É lembrar-se de cada uma dessas fases e senti-las ainda presentes aqui dentro.
Envelhecer não é um descartar fases que passaram com o tempo e me transformaram em um outro ser, mais frágil, atrasado e sem esperanças. Envelhecer é possuir nesse corpo curvado a robustez de todas as mulheres que fui, a amplidão de uma vida que foi vivida.
Envelhecer é tornar-se múltiplo. Como a árvore antiga e persistente que se constitui, em matéria e essência, dos anéis de outras épocas. E essa casca enrugada, aparentemente frágil, é força que soube resistir às intemperes do mundo e possui a sabedoria de preservar dentro de si, correndo vivos, rios de seivas e sentimentos.
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