“Era o fraco que devia ser forte e partir”

Como terminar o que ainda nem tinha começado? Como terminar o que dentro de mim ainda vivia e pedia para viver mais? Como dizer adeus se o que eu mais queria era ficar? Como te liberar para outras pessoas se o que eu mais queria era você perto de mim? Como desistir dessa história se o amor que eu sentia ainda não tinha desistido? Como?

Milan Kundera, em a Insustentável Beleza do Ser, disse: “Mas era justamente o fraco que devia ser forte e partir“. E eu sabia que com a gente também tinha de ser assim. Era eu que estava sentindo demais, era eu que tinha todas as células tomadas pelo amor, era eu que que transbordava em lágrimas que morriam no travesseiro quando você desaparecia e não me incluía na sua vida. Era eu que deveria dizer um adeus definitivo e seguir em frente, mesmo que aos pedaços. Era eu que tinha que terminar aquilo, pois aquilo somente pra mim tinha começado.

A sua porta estava entreaberta. Nunca fechada. Nunca escancarada. Por ali eu entrara. Por ali outras garotas entravam também. Isso me doía a cada vez eu que respirava. E a cada vez que meus olhos piscavam, lágrimas passaram a cair. Era o fraco que devia ser forte e partir. Eu olhei pra você uma última vez. Olhei com um cuidado absurdo para que você não percebesse a sutileza das lágrimas que salgavam a minha pele, já ferida. Se você me deixasse partir, eu sabia que não poderia mais voltar. Nunca. E eu não voltaria. Eu te olhei, e eu acho que o meu olhar te disse tantas coisas, tinha tanto sentimento ali. Mas aquilo nunca teria significado pra você e você, naturalmente, não fez nenhuma objeção à minha partida. Em silêncio, fechei aquela porta por onde eu havia entrado meses atrás. E ali, naquele momento, apesar de fraca, fui mais forte que o mundo.

Imagem de capa:  Volodymyr Tverdokhlib/Shutterstock

Nat Medeiros

“Sou personagem de uma comédia dramática, de um romance que ainda não aconteceu. Uma desconselheira amorosa, protagonista de desventuras do coração, algumas tristes, outras, engraçadas. Mas todas elas me trouxeram alguma lição. Confesso que a minha vida amorosa não seguiu as histórias dos contos de fada, tampouco os planos de adolescência. Os caminhos foram tortos, íngremes, com muitos altos e baixos e consequentemente com muita emoção. Eu vivo em uma montanha-russa de sentimentos. E creio que é aí que reside o meu entendimento sobre os relacionamentos. Estou em transição: uma jovem se tornando mulher experiente, uma legítima sonhadora se adaptando a um mundo cada vez mais virtual. Sou apenas uma mas poderia ser tantas que posso afirmar que igual a mim no mundo existem muitas e é para elas que escrevo: para as doces mulheres que se tornaram modernas mas que ainda acreditam nas histórias de amor.”

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