Sou jornalista. Não sou educadora. Mas tenho 3 filhos para educar. E tenho 3 filhos no sistema de educação. Um sistema que está fora do que chamamos de ensino tradicional. Porque baseia-se na pedagogia Waldorf. E, sempre que me perguntam “E aí, você não tem medo do vestibular?”, digo que não. Não tenho medo. Primeiro porque a escola forma bons alunos. Alunos que constroem conhecimento e que apreendem conhecimento. Segundo, e mais importante, porque a escola forma seres humanos. Isso pra mim é o maior ganho que eles podem ter na – e para – vida. Aprenderem o que, de fato, tem valor. Porque, além de todo conteúdo teórico, aprendem com o corpo e com o coração. Fazem uso da emoção e da alma pra trabalhar essências do ser humano. Isso, pra mim, é o cerne da educação moderna. Porque está baseada na formação de seres humanos íntegros, sensíveis e capazes de atuar por um mundo melhor. E isso só é possível se a escola, ou o sistema de educação, se perguntar: que alunos queremos formar para o mundo? Que futuro queremos?

Estão aí as duas grandes perguntas que deveriam nortear toda discussão que permeia o sistema educacional, não só o brasileiro, como o mundial. Que futuro queremos dar a nossos filhos? Que crianças queremos formar? Em que pilares a educação deveria se basear, se sustentar, para formar esse aluno que é um cidadão? As escolas premiam os que tiram as melhores notas, quando deveriam premiar a gentileza, a empatia, o companheirismo, a tentativa, o trabalho em equipe. É o olhar para o potencial da criança na escola, e na sociedade, além do curriculum tradicional. Porque no futuro terá espaço para os que vivem em sociedade, e não para os que vivem centrados no próprio umbigo. Ou nos próprios louros. O mundo já está cheio de louros, e olhe bem como estamos. Alguma evolução? Algum ganho que realmente preencha a alma? Não. O sistema educacional hoje forma alunos em série. Que saem preparados para o vestibular, mas não preparados para a vida. Precisamos colher frutos e não louros.

Em visita recente ao Brasil, o educador português José Pacheco, criador da Escola da Ponte, contou por que é contra o método tradicional de ensino e nos lembrou que a escola foi, formalmente, sistematizada na época da Revolução Industrial. Quando se produzia em série e era preciso formar trabalhadores em série. Daí os anos se chamarem 1a série, as cadeiras enfileiradas, e assim por diante. Mas que bom que existem escolas e educadores remando contra a maré e buscando não só novas formas de educar, como conteúdos relevantes e questionando o sistema que, nada mais, nada menos, reproduz o que era importante séculos atrás. E quanto mais remamos contra a maré, mais nos aproximamos da fonte. Ou seja, daquilo que é essência, e vamos recuperando os valores da vida, do ser humano.

E, para reforçar e dar anda mais coro a tudo isso, semana passada foi lançado no Brasil o projeto Escolas Transformadoras. Uma parceria entre o Instituto Alana e Ashoka, que buscam dar luz a escolas que se preocupam com todas essas questões que eu levantei no texto. Já são 200 escolas por 26 países, sendo 10 delas brasileiras. Escolas que valorizam competências, fortalecendo uma visão comum de que todos nós podemos ser transformadores do mundo. Onde a criança tem um papel de coautora na escola, tem escuta. Ela também é protagonista. Porque a criança, ou o adolescente, cria para ser, e fazer, a diferença, junto à escola. Num sistema que preenche o sentimento de pertencimento. Quase numa proposta de derrubar os muros para impactar e transformar a comunidade.

São escolas que criam para transformar versus escolas que reproduzem o sistema, ou o método. Escolas que contribuem para a construção de conhecimento. Escolas que se preocupam em formar seres humanos versus bons alunos que tiram boas notas. Escolas que se preocupam em responder questões do mundo e da sociedade versus “o profissional que eu quero ser quando crescer”. Escolas que vão além do português e da matemática, porque a vida é mais do que conteúdo na lousa. Escolas que acreditam que empoderam a força transformadora de cada um. Porque acreditam que a mudança começa internamente, em cada indivíduo. E somos todos uma unidade comum, somos comunidade, porque somos seres humanos e vivemos em sociedade.

Para saber mais sobre o Escolas Transformadoras, acesse o site do projeto acessando aqui 

Por Carolina Delboni

Fonte indicada: Estadão

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