Assim como nem todo discurso é importante, nem toda música emociona, nem toda buzina abre o caminho, nem todo grito é ouvido.
Nem todo silêncio é falta do que dizer. O silêncio é comunicação poderosa. Intriga quem aguarda a mensagem explícita, assusta quem não sabe interpretar, alivia quem não tinha intenção de dar retorno.
Meu silêncio não é estupidez, não é dúvida nem temor. Meu silêncio, na maioria da vezes, é cansaço, exaustão. É uma nítida sensação de que as palavras não alcançaram a intenção, e, no contexto, foram condenadas a repetirem-se eternamente, sem trazer mais nenhum sentido.
Meu silêncio é protesto. Contra as conversas vazias, contra as fofocas doentias, as críticas maliciosas, as conclusões passionais.
Meu silêncio é recusa. Recusa a repetir os assuntos do momento, as discussões de ódios e paixões políticas, os ataques e defesas individuais. Recusa também a compartilhar as notícias infelizes, as tragédias vizinhas, a insanidade em que o mundo mergulhou.
Meu silêncio é grito! Grito de rompimento com o que não me cabe mais. Grito de liberdade com o que não interessa mais. Grito de alívio com o ponto final de uma discussão.
Escuta o que cada silêncio quer dizer. O seu silêncio, o silêncio que chega até você. Se antes o barulho resolvia, e agora não resolve mais, faz silêncio.
Faz silêncio ainda que a insistência seja incansável. A razão não costuma acompanhar quem rompe o silêncio somente por provocação. Quem aparece, quase sempre, é o arrependimento.
Escuta o que o silêncio do outro quer te dizer. Pode até não ser o esperado, mas dito, poderia ser pior.
Escuta a resposta da vida que os silêncios trazem. No meio de várias negativas aos nossos pedidos e esperanças, estão misturados os aceites, as desculpas, os convites e inspirações que só se ouve quando tudo está em silêncio.