Espero que você seja feliz, mas bem longe de mim.

Por Nina Spim

Há algum tempo, presenciei uma situação com alguns conhecidos meus. Estávamos numa palestra na faculdade e, na fileira à nossa frente, havia duas meninas que, provavelmente, eram amigas. Elas conversavam e, é, às vezes elas tocavam os cabelos uma da outra. Ali, vi duas amigas sendo amigas. A gente toca em quem gostamos, certo? Até mesmo eu, que sou uma pessoa que se esquiva de contato físico, toco nos meus amigos, simplesmente porque é uma reação natural.

No entanto, alguns dias depois, qual foi a minha surpresa por pescar um assunto entre meus conhecidos que também viram a relação das duas meninas à nossa frente. Basicamente, eles estavam abominando o que presenciaram. Porque “só faltou que as meninas se beijassem” e, provavelmente, isso seria um escândalo.

Duas coisas vieram à minha mente. Primeiro: acho incrível o quanto as pessoas exageram em certos aspectos só para tentarem chamar à razão as outras. Como supracitado, as garotas estavam apenas sendo garotas amigas. E, segundo: quando foi que nos permitimos reprimir os outros pelas felicidades deles?

É provável que, se fossem um garoto e uma garota, a situação teria passado batida. Afinal, a gente vê um casal heterossexual em todos os lugares e nos habituamos a beijos públicos e demonstração de carinho de forma comedida. Raramente alguém reprime esses casais. Mas é comum encontrarmos pessoas que se incomodem com o amor alheio, quando ele é diferente do que esperam. Às vezes, a repressão vem em forma de uma olhadinha enojada, ou de um comentário preconceituoso (e equivocado) numa rodinha de amigos.

Quem coíbe não entende que está suprimindo a liberdade do próximo – ou talvez entenda, saiba exatamente o que está fazendo e não se sente culpado por tal ato. E não há como compreender esse tipo de gente. Se você está feliz, tudo bem demonstrar isso para quem quiser e tenho certeza de que, se alguém lhe dizer para “se comportar”, você se ofenderá. Então, por que praticar o que não quer que façam contigo? Por que se permitir ser aquela pessoa intolerante que não compreende que a felicidade alheia não é da sua conta? E que, acima de tudo, a sua liberdade termina quando começa a do outro?

Se ser feliz é se policiar o tempo inteiro e ficar se justificando por seus atos, talvez, muita gente precise repensar em seus conceitos e preconceitos. Ninguém deveria aceitar ser diminuído por outrem. E, se você não quer que te diminuam, comece a não diminuir as pessoas ao seu redor. Por mais que o “diferente” não agrade a muitos, o respeito é muito mais do que dizer que tem amigos gays, negros, gordos, ruivos, baixos (e de muitos outros jeitos), mas que prefere não tocar neles, ou sair com eles. Respeitar é compreender que vocês são diferentes e que essa pessoa merece ser tratada com tanta consideração quanto você é tratado.

Nota da Conti outra: o texto acima foi publicado com a autorização da autora.

Nina Spim

É uma escritora sonhadora dotada de blue feelings. Cursa Jornalismo na PUCRS, adora as palavras, mora nos livros, gosta de cinema como um esporte, é seriadora aos fins de semana e escritora compulsiva. Autora dos contos “Heart and Love” e “Coisas, definitivamente, de Amélia” das Antologias Amor nas Entrelinhas e Aquarela, respectivamente, pela Adross Editora.

Dona do blog http://ninaeuma.blogspot.com/

CONTI outra

As publicações do CONTI outra são desenvolvidas e selecionadas tendo em vista o conteúdo, a delicadeza e a simplicidade na transmissão das informações. Objetivamos a promoção de verdadeiras reflexões e o despertar de sentimentos.

Recent Posts

Saiba o que é o “namoro solo”, a nova tendência da Geração Z

Uma nova tendência entre os jovens da Geração Z vem ganhando força e gerando polêmica:…

1 hora ago

Mãe expõe áudios de filha que foi abandonada pelo pai: “Nunca te fiz mal, pai”

Em mensagens de cortar o coração, a menina deixa evidente a falta que o pai…

7 horas ago

Mulher que teve experiência de quase morte detalha visão assustadora que teve ao ‘deixar seu corpo’

Cirurgia radical levou paciente ao estado de morte clínica, revelando relatos precisos de uma “vida…

9 horas ago

Agnaldo Rayol falece de forma trágica aos 86 anos e deixa legado na música brasileira

O cantor Agnaldo Rayol, uma das vozes mais emblemáticas da música brasileira, faleceu nesta segunda-feira,…

1 dia ago

Padre causa polêmica ao dizer que usar biquíni é “pecado mortal”

Uma recente declaração de um padre sobre o uso de biquínis gerou um acalorado debate…

1 dia ago

A triste história real por trás da série ‘Os Quatro da Candelária’

A minissérie brasileira que atingiu o primeiro lugar no TOP 10 da Netflix retrata um…

1 dia ago