Desde que a trilogia Millennium de Stieg Larson chegou por aqui, o consumo de livros de assassinato e mistério escritos por autores do norte do Atlântico aumentou consideravelmente. No entanto, é preciso dizer que, ainda que tais livros sejam de qualidade indiscutível, a literatura nórdica não se reduz apenas a romances policiais ou aventuras fantásticas. Nela encontramos também grandes obras sobre questões existenciais, políticas, históricas e mesmo linguísticas.
A presente lista tem o intuito de falar de alguns desses autores que estão fora do hall das “estrelas” escandinavas. O grande problema é que poucos autores que não escrevem romances policiais, ou “Scandi Crime”, como também é conhecido o estilo, são traduzidos por aqui. Por isso, vale a pena, para quem tem facilidade com línguas como inglês ou espanhol, procurarem por eles nesses idiomas. Não é tarefa das mais fáceis, admito, mas vale a pena o esforço, principalmente quando se trata de literatura de primeira. Outra opção é procurar por edições portuguesas (Portugal), pois muitos dos nomes aqui indicados foram publicados em terras lusitanas.
Foto: Jakob Dall
O estilo de Tomas Espedal (54) é bastante influenciado por Thomas Mann. Segundo ele, seu projeto literário passa pela ideia de descrição de uma família de classe trabalhadora que chega ao fim, exatamente em sua pessoa. Descrever algo que chega ao fim, seja uma família, uma cultura ou um modo de vida. Para ele, escrever não é algo terapêutico – ao contrário, gera crises. “Ler pode ser reconfortante, mas nunca escrever”, disse em uma entrevista ao Louisiana Channel. Espedal possui algo único. Talvez o seu gosto pela linguagem, pelo processo de conhecer algo ou a si mesmo pela linguagem seja o seu maior atrativo. Seus romances possuem fortes tons biográficos, muitas vezes abordando a rotina, os obstáculos e sacrifícios da escrita.
Títulos publicados no Brasil: Nenhum
Foto: Toni Härkönen
A escritora finlandesa, hoje com 39 anos, é uma das escritoras que mais lucrou no ano de 2010, entre seus conterrâneos. Tudo graças a “O Expurgo”, seu terceiro romance, que acabou virando filme (Uma Noite de Crime) e ópera, além de lhe render alguns prêmios e de ser publicado em mais de 40 países. Alguns de seus romances trazem elementos históricos e políticos importantes sobre a antiga União Soviética. O estado psicológico das vítimas da guerra, a descoberta do corpo, do sexo e da importância das relações humanas, também são assuntos importantes da sua escrita.
Títulos publicados no Brasil: As Vacas de Stalin (Record, 2013), O Expurgo (Record, 2012)
Foto: Sigtryggur Ari
Se você é do tipo de pessoa que, sempre que lê ou ouve as palavras “nórdico” e “escandinavo”, já se empolga e pensa em vikings e mitologia, mas que não gosta dos exageros cinematográficos, talvez a poeta Gerdur Kristný (46) seja a sua praia. Seu livro “Blóðhófnir”, por exemplo, é baseado em um poema do Edda sobre a deusa da fertilidade Freyr. Kristný também escreveu livros infantis, histórias curtas e uma biografia. Sua obra, que ela descreve como algo sempre coberto de neve, dialoga particularmente com a tradição islandesa, com sua geografia e clima. Ela trata dos mitos da sua terra com respeito e humildade visíveis em versos muito bem estruturados. Em 2013, Kristný veio até a América do Sul, como convidada do Festival de Poesía de Medellín, na Colômbia.
Títulos publicados no Brasil: Nenhum
Foto: Herman Dreyer
Jon Fosse (57) está entre os dramaturgos mais encenados do mundo. Com diálogos que beiram a poesia, suas peças causam alvoroço por onde passam. O autor norueguês também escreve romances, poemas e livros infantis. É considerado um fenômeno. Já venceu o prêmio Ibsen (o maior prêmio do teatro mundial) e foi por três vezes condecorado com a Ordre National du Mérite (França). Foi professor de Karl Ove Knausgard, sendo responsável, inclusive, de indicar a ele o caminho da prosa.
Títulos publicados no Brasil: Melancolia (Tordesilhas, 2015)
Gyrdir Eliasson (56), além de escritor, é um importante tradutor islandês. Foi agraciado em 2011 com o Nordic Council Literature Prize pelo livro “Milli Trjánna”, uma coletânea de histórias curtas. Talvez seja reconhecido por seu trabalho como poeta. Seus personagens quase sempre parecem estar em busca da compreensão do mundo e ondes eles podem se encaixar nele.
Títulos publicados no Brasil: Nenhum
Foto: Isak Hoffmeyer
Nascido na Dinamarca, Carsten Jensen (64) é daquele tipo de autor que não tem pressa. Cada palavra, cada sentença é parte de uma sinfonia maior, que vamos ouvindo e assimilando no decorrer da leitura. O maior exemplo disso é “Nós, os afogados (Tordesilhas, 2015), onde narra de maneira exuberante e grandiosa o surgimento da moderna Dinamarca através de várias gerações de navegadores de uma pequena cidade, em viagens por várias partes do mundo. Jensen também é comentarista político.
Títulos publicados no Brasil: Nós, os afogados (Tordesilhas, 2015)
Foto: NTB Scanpix
Dag Solstad (75) parece ser o queridinho dos escritores que não vêm muita graça no já citado Knausgard. Mesmo Peter Handke, que teve seu livro “Jugoslavia” publicado pela editora de Karl Ove Kanausgard, não hesitou em dizer em uma entrevista do ano passado que preferia o estilo mais arejado do primeiro. Do outro lado do mundo, Haruki Murakami foi responsável por traduzir Solstad para o japonês. Dag Solstad goza de grande prestígio em seu país (Noruega), onde tem o status de maior exemplo literário, principalmente por seu estilo experimental e vanguardista.
Títulos publicados no Brasil: Nenhum
Foto: Divulgação
A islandesa Audur Ava Ólafsdóttir (58) é refinada na escrita. Transita bem entre profunda tristeza e cálida alegria, até mesmo com toques de humor. Ela também nos dá comoventes descrições das paisagens da Islândia, escritas de maneira sensível, terna. O tipo de leitura que vai agradar quem procura por algo leve, mas capaz de tocar intimamente.
Títulos publicados no Brasil: Rosa Candida (Objetiva, 2015)
Foto: Fredrik Bjerknes
A norueguesa de 37 anos ganhou notoriedade já no o lançamento do seu primeiro livro “Jo Fortere Jeg Går, Jo Mindre Er Jeg”, lançado como “Quanto Mais Depressa Ando, Mais Pequena Sou” pela editora portuguesa Eucleia (com uma bela capa, aliás). De lá para cá, Skomsvold vem cativando leitores pelos países onde é traduzida, tanto pela escrita criativa quanto pelo uso da mitologia em contextos interessantes. Uma carreira para se observar com atenção.
Títulos publicados no Brasil: Nenhum
Foto: Anniken C. Mohr
Kjell Askildsen (86) é considerado o mestre das histórias curtas. O mais velho dos autores aqui apresentados, publicou seu primeiro romance em 1953 e até hoje continua a escrever. É visto como um escritor de humor negro e bastante cínico, beirando o depressivo. Perfeito para quem gosta de obras com tons de ironia e pessimismo. Askildsen faz jus à impressão de desolação e inverno interior que normalmente se tem ao falar da literatura em língua escandinava. Recebeu diversos prêmios até o momento, incluindo o Swedish Academy’s Nordic Prize de 2009.
Títulos publicados no Brasil: Nenhum
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