Por Nara Rúbia Ribeiro
O futuro e o passado são tempos ausentes. Eles só existem em nossa mente e têm a cor e a forma que os nossos pensamentos lhes emprestam. Aquele que relembra, bem como aquele que, em pensamento, tenta antever o futuro, abre, na mente, a janela que naquele momento melhor lhe favorece. Assim, um mesmo acontecimento pode desencadear, ao ser relembrado ou antevisto, emoções diferentes e até antagônicas.
Escolhemos o que relembrar e aquilo que devemos esquecer. Criamos fantasmas que nos visitam ou se alojam em nós… Forjamos frestas de esperança, ou de medo, num futuro que construímos nos recantos da alma. E, displicentes, nos descuidamos da única e absoluta realidade do tempo: o agora.
Só o agora é real. De resto, tudo é abstração. É criação da mente dos homens a quem é dada a tarefa de criar e recriar, de reinventar a si mesmos. Mas só nos reinventamos hoje. Só vivemos no agora. Só o instante é permanente. Só o agora existiu ontem, é hoje e será no amanhã a nossa possibilidade de ser o aquilo que almejamos.
E constato que a cada dia é mais difícil viver no presente. Ora a depressão nos aponta para aquilo que não fomos, para o que não fizemos, para as metas não alcançadas e nos estaciona no passado, lamentando tudo o que “deveríamos” ter sido. Doutra vez, é a ansiedade que nos faz viajar ao futuro no afã de burlar o tempo e de nos fazer prisioneiros do amanhã, procrastinadores da existência, desperdiçadores do hoje.
E nos esquecemos de que já nos é dado vivenciar o infinito: cada segundo é uma réplica, uma miniatura da eternidade. E o eterno só existe em nós e por nós. E é agora.
Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra
Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
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