Não vou dar desculpas, amo demais. Não sei ser outra coisa que não seja entrega. Quando amo, é tudo de mais sincero que você vê e sente. Infelizmente, nem sempre o amor transbordado é o suficiente. Então, o jeito é tocar a vida porque, pelo visto, você não está preparado para isso.
Já tentei camuflar o amor, mas não consigo. Ele é descarado. Chega se exibindo através de sorrisos e mãos dadas. Fica em plenitude por encontrar alguém que o receba e cuide. Alguns amigos diriam que ele tem vida própria. Talvez tenham razão. O meu amor não deixa por menos na hora de fazer valer o seu status. É um problema, eu sei. Admito. As pessoas têm medo, desconfiança. No fundo, penso que estamos desacostumados com o amor.
Quase ninguém está preparado para o meu amor, por exemplo. Porque não minto, não faço jogos e não escondo os meus sonhos e angústias. Sou de verdade, sabe? Tenho alma e coração, mas parece raridade num mar de tantos gostares. Amo demais porque carrego cumplicidade desde o primeiro dia. Amo demais porque sinto saudade e quero poder senti-la sem julgamentos. Amo demais porque faço planos para dois. Amo demais porque entrar na vida do outro significa somar individualidades. Amo demais porque respeito, admiro e escuto o que a outra pessoa tem a dizer.
Ainda assim, não tá dando para continuar a insistir numa relação onde só uma pessoa é inteira. Instantes parcelados não alimentam o amor, sinto muito. E sinto tanto que, vez ou outra, tenho que dar vazão para esse amor. Ele tem vida própria, lembra? Mais do que isso, ele é amor próprio. Logo, quando não há vislumbre algum de reciprocidade, ele transborda de fora para dentro. Vai cuidando e fazendo do meu coração um lugar melhor para seguir em frente, para amar de novo.
Eu avisei que não daria desculpas. Amo demais. Não sei ser outra coisa que não seja entrega. Quando amei, você não esteja preparado. Mas, para o seu azar, aprendi que amar por dois é demais para qualquer um. Agora, amo para um até que alguém decida transformá-lo para dois.
Imagem de capa: Jules et Jim (1962) – Dir. François Truffaut