De uns tempos para cá, minhas unhas ficaram quebradiças e frágeis. Além do desconforto estético, existe o incômodo da dor, pois algumas quebram ao meio, ainda na carne, impossibilitando que eu as corte.
Como sou muito vaidosa, fui logo em busca de uma profissional que faz alongamento de unhas. Ela colocou sobre as minhas frágeis unhas, uma aplicação de fibra de vidros. Não vou explicar o procedimento porque não saberia de fato como é feito, mas as informações sobre ele estão disponíveis na internet.
O resultado ficou fenomenal, saí do salão deslumbrada. Eu estava, simplesmente, encantada com minhas mãos. Nossa, como aquilo fez bem à minha autoestima! Acontece que, em alguns momentos, eu me lembrava de que embaixo daquelas unhas glamurosas existia uma realidade nada bonita: as minhas unhas quebradiças e frágeis, nada saudáveis. Isso me entristecia por alguns instantes, mas, passava logo.
Não faltaram elogios, eu fiquei, de fato, muito envaidecida. A cada 30 dias eu voltava à profissional para fazer a manutenção das unhas artificiais. Inevitavelmente, aquela sensação de estar negligenciando a minha saúde passou a me visitar com mais frequência. Percebi que as novas unhas eram uma máscara que eu usava para ocultar uma realidade que me desagrada. As minhas unhas precisam de um dermatologista, não de uma manicure especializada em alongamento.
Afinal, se minhas unhas, que sempre foram saudáveis, estão quebradiças, alguma alteração está acontecendo em meu organismo. Talvez uma alergia ou mesmo uma deficiência de algum nutriente. Não sei ao certo, mas eu tenho que investigar e não recorrer a um recurso que tem um efeito meramente estético. Sem contar que não descarto a possibilidade de o procedimento estético ter agravado a saúde das minhas unhas.
De tanto me incomodar, decidi retirar aquelas unhas lindas e falsas. Optei por iniciar um tratamento com um dermatologista. O tratamento vai requerer gastos e muita paciência, mas quero minhas unhas saudáveis e resistentes de volta.
Toda essa experiência me levou a refletir e traçar paralelos com outros contextos. Me fez pensar nas pessoas que estão adoecidas emocionalmente, mas que não buscam um tratamento psicológico e/ou psiquiátrico. Correm de uma psicoterapia como o diabo foge da cruz, chegando, inclusive, a dizer que psicólogos são para doidos, e que não é o caso deles(as). Essas pessoas preferem mascarar suas dificuldades com algumas compulsões relacionadas à alimentação, drogas, compras (mesmo sem poder) etc.
Existem tantas estratégias que usamos para mascarar alguns desconfortos, não é mesmo? Não faltam artifícios. De fato, não é fácil encarar algumas realidades, isso requer, dentre outras posturas, força, determinação e humildade. Retirar as nossas máscaras, implica coragem para encarar uma realidade nada bonita que, por vezes, elas escondem. É preciso muita raça para despir-nos diante de nós mesmos. Não me refiro à nudez diante do espelho do nosso quarto, mas, sim, da nudez da alma diante da nossa consciência. É mais fácil tentarmos desnudar a vergonha alheia, dessa forma, esquecemo-nos da nossa.
Arrancar a máscara do “não tenho tempo” para aquilo que precisamos fazer, mas nos esquivamos porque não é prazeroso. Tentar entender o que tem por baixo da máscara chamada “é uma crítica construtiva” muito usada para ofender e amarelar o sorriso do outro. Enfim, existem máscaras para todos os lados. Especialmente em tempos de boom digital, onde queremos aparecer sempre impecáveis, invejáveis, empáticos, simpáticos, incríveis e surreais.
Eu aceitei que preciso de ajuda, não quero essa máscara nas minhas unhas. E você, será que usa alguma máscara para esconder algo que não gosta em você? Se sim, até quando pretende usá-la? Será que o custo-benefício compensa? Acho que vale a reflexão.
Imagem de capa: shutterstock/pmmart