É possível que alguém acredite no bom senso num mundo como o de hoje?
E na palavra de outro alguém? E nas intenções? Na vontade de fazer o certo?
Geralmente se acredita no que convém, no que parece mais com a verdade e senso de justiça que se conhece.
O mundo encolhe ou se expande no ritmo de cada respiração, de cada arquear de ombros ou dobra de joelhos.
Eu escolhi viver num mundo onde tudo é possível. Um mundo que me convém, que me permite olhar para tudo e me fixar somente no que me interessa, um mundo que eu não conheço mais pelos jornais, mas também não faço uso de suas notícias para vomitar revolta nem desesperança.
Escolhi o mundo que se relaciona comigo, que me oferece ferramentas para crescer, instrumentos para trabalhar. Não olho mais para o mundo distante que não faz parte da minha existência. Não quero entender de tudo, não preciso saber de tudo, não me interessam competições, gincanas, corridas. Só encararia a corrida contra o tempo, de tanto gostar do meu mundo, mas em briga perdida não se entra.
Eu escolhi o mundo de pessoas que olha profundamente nos olhos de seus semelhantes, de gente que se esforça para ser mais do que um espantalho enfeitado no milharal, que não tem medo de abrir mão de coisas em favor de pessoas, que coloca o dinheiro no seu devido lugar e que acredita que poder mesmo só tem que é livre!
No meu mundo, ninguém maltrata gente nem bicho. Nesse mundo a gente troca fácil uma festa pomposa por aquela reunião barulhenta de amigos, com direito a confissões e gargalhadas até a barriga doer.
E que vai me condenar por escolher e decorar o meu mundo da forma como quero vê-lo? Mais fácil batalhar essa utopia do que tentar se enquadrar no mundo como ele é. Mais lucro mudar um milímetro de mundo, do que comprimir uma vida inteira no milímetro que conseguiu vislumbrar, de muito longe.
E só para terminar, no mundo que eu escolhi viver, há dor, sofrimento e morte. Mas, sendo nele tudo possível, é possível também que eu entenda que tudo isso é perfeitamente normal, não coisa de outro mundo.
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