Eu já não miro as estrelas. Meu alvo na vida está ali na esquina.

Tudo o que é grande já não me fascina, todo o esforço que me faz mudar toda o meu entorno e a minha rotina não me ativa por dentro.
Não sei se é velhice de alma, canseira dos passos, mas meus olhos já não se deslumbram com as conquistas homéricas, os amores arrebatadores, as histórias grandiloquentes.

Só de pensar em querer conquistar o que não está ao alcance fácil e genuíno das minhas mãos, dos meus pés e da minha alma simples, eu me canso, eu desisto mesmo antes do início. Porque eu quero o que me cabe e, mais importante, onde eu caibo sem ter que ser mais nem menos, sem ter que estufar esse meu peito franzino.

Só de pensar em me munir de ferramentas, atributos, armas de ataque pra sair à luta e conquistar recompensas grandiosas, corações dificílimos, amizades poderosas, posições profissionais-pessoais-sociais importantíssimas, já me canso e não me arrisco.

Ter um alvo lá nas nuvens, atirar nas estrelas para atingir o Monte Everest, não, isso já não me apetece. Meu alvo é aqui pertinho, está logo ali na esquina, deve se parecer comigo, é algo singelo e tranquilo.

Quero uma conversa boba, um ombro amigo, um amor pela vida mais do que pelos prêmios do mundo. Quero um pijama velho, uma janta simples, um pão com ovo bem feitinho, um chuveiro quente e um travesseiro com sonhos bonitos.

Glória pra mim é ver o manjericão virando arbusto no canteiro, é pagar as contas do mês, é ter tempo para escrever um poema inteiro.

Vida pra mim é a trégua, é o porto seguro onde minha alma pousa serena. Amor pra mim é o respiro de alívio, é uma companhia com menos exigências e mais carinho.

Eu já não me debato para conquistar algo mais alto, não quero nem o castelo nem o príncipe encantado. Eu já não me puno por sair de perto quando me sinto insegura, eu já não me saboto e me engano achando que eu tenho que cumprir tantos planos para me sentir mais satisfeita comigo mesma.

Está tão perto a minha riqueza. É o que cresce e se ajusta sem tanto esforço assim; tudo o que tem cheiro de lar, onde eu posso entrar e ficar à vontade. Onde eu não preciso mudar minha essência para poder me encaixar e merecer fazer parte. Porque o que eu sou já é o bastante.

E por isso eu posso ficar em paz e usar minhas energias para investir mais em crescer como ser humano.

Clara Baccarin

Clara Baccarin escreve poemas, prosas, letras de música, pensamentos e listas de supermercado. Apaixonada por arte, viagens e natureza, já morou em 3 países, hoje mora num pedaço de mato. Já foi professora, baby-sitter, garçonete, secretária, empresária... Hoje não desgruda mais das letras que são sua sina desde quando se conhece por gente. Formada em Letras, com mestrado em Estudos Literários, tem três livros publicados: o romance ‘Castelos Tropicais’, a coletânea de poemas ‘Instruções para Lavar a Alma’, e o livro de crônicas ‘Vibração e Descompasso’. Além disso, 13 de seus poemas foram musicados e estão no CD – ‘Lavar a Alma’.

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