“Se você está pensando que eu estou me importando, claro que eu estou!”
Agora, a areia quentinha da praia conforta meus pés, enquanto a voz e violão do moço havaiano acariciam meus ouvidos.
A sinceridade de Vinicius me convém, é minha verdade estampada e não me envergonho. Inclusive, faço questão de admitir. Não vou conter toda essa explosão de sentimentos. Faz mal calar nessas horas, você mesmo me ensinou.
Ora, assim como ele, não sou como essa gente que ama e, de repente, tchau, e acabou. À minha frente, o mar calmo que se acaba no céu azul com poucas nuvens é uma tela deslumbrante que não me impede de visualizar teus olhos transparentes, que, em um outro momento de inocência minha, pensei mostrarem tua alma.
O vento abraça meus ombros e lembro-me daquele dia em que me distraí com um livro, numa loja qualquer, e, quando voltei ao mundo concreto, dei de cara com eles – teus olhos – que me observavam curiosos.
Face a face, assim, eles são de uma beleza rara e arrebatadora. Algo que, admito, naqueles dias me parecia fora da realidade. Realidade esta que, hoje, dialoga pacientemente comigo e, ao longo do processo, alivia minha dor. Com cuidado, ela me explica que nem tudo está ao alcance de meu entendimento.
“Sofri muito. Demais, porque minha grande paz vinha toda de você. Pus você alto demais, com cuidados tão legais que nem vi você descer”. Quando dei conta de meus erros e distração, não deu outra, já estava no chão. Meus amigos, tanto quanto meu violão, foram meu conforto e minha salvação. Teu amor me despedaçou, mas eu, aos poucos, remontei-me. Demorei-me um pouco porque, de novo: não sou como essa gente que ama e, de repente, tchau, e acabou.
A novidade é que agora conheço cada pecinha de meu coração e tenho minha paz em mim. Você, mais do que qualquer um, sabe: sempre tive medo de certezas, entretanto, digo-te que não adianta chorar nem fazer birra, algumas perguntas – como as que um tempo atrás eu tanto queria te fazer – ficam sem resposta. Hoje, o que posso te assegurar é que o mundo está em contínuo movimento.
A areia, as ondas, os ventos que nos confortam, acariciam e abraçam, são os mesmos que se vão em algum momento. Eles têm de ir. Eles sempre vão. Eles talvez voltem, mas é natural que se movimentem.
Pois é. Não sou como essa gente, que ama e, de repente, tchau, acabou, mas hoje estou ciente de que a dor, a angústia e até mesmo o amor, uma hora precisam ir e a gente, quer queira ou não, tem que seguir, importando-se, relacionando-se – com o outro, com si mesmo -, desmontando-se, por fim, refazendo-se e reinventando-se.
*Texto com referências à música “Quem ri melhor”, composta por Vinicius de Moraes
Imagem de capa: Nadya Korobkova/shutterstock
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