Há quem diga que perdoar é esquecer. Eu discordo totalmente dessa frase. Para mim perdoar é lembrar sem sentir mágoa, rancor, ou sentir que aquilo que te feria continua a doer. É difícil e leva tempo, mas quando conseguimos sentimos uma paz imensa.
Depois de muitos tombos em amizades eu fiquei um tanto que calejada. Tenho medo de confiar novamente, de partilhar meus segredos, de contar as minhas loucuras. Quantas pessoas passaram pela minha vida e se mostraram ser amigos de verdade daqueles que a gente conta tudo e no final esse alguém usa de mentiras para lhe magoar. Quantas vezes achei que a pessoa que partilhava o dia a dia comigo era mesmo meu amigo, mas na primeira oportunidade provou ser o contrário. Doeu muito perceber tudo aquilo e por mais que doesse eu sabia: Era preciso perdoar. O perdão liberta não quem precisa ser perdoado, mas quem precisa perdoar.
Depois de muito tempo eu compreendi: Ninguém está livre de errar. Mas confesso que alguns errinhos nos deixam com um pé atrás. Mentiras destroem qualquer relacionamento seja ela qual for desde aquela ocultada no preço que você gastou no mercado até de onde você estava quando o (a) seu companheiro (a) te ligou. Mentiras são como analgésicos, no momento do ápice, do problema, quando você não consegue dizer a verdade, por medo de doer, você vai lá e solta aquela mentirinha inofensiva a princípio. No momento as coisas até acalmam, mas logo volta a doer e ás vezes até mais do que antes.
Nunca fui aquela pessoa que tem uma dificuldade imensa de perdoar, mas tenho sérios problemas em confiar novamente. Sou pé atrás, tenho receio de me magoar novamente. Já dei tantas “chances” e oportunidades e sinto que as pessoas não valorizaram nenhuma delas. Continuam na promessa do “eu vou melhorar” ou “isso não irá acontecer novamente”, mas na primeira oportunidade estão lá fazendo a mesma coisa de sempre. Eu desculpo e perdoo como quem precisa disso para não se machucar ainda mais, porém confesso: Demoro a recompor a confiança.
Penso que se as pessoas prezassem mais pelas amizades e por mantê-las as coisas seriam mais fáceis. A verdade é que não medimos nossas atitudes e as proporções delas na vida do outro. A sensação que tenho é que as pessoas sabem que no final eu irei perdoar. Elas se asseguram na ideia de que independente do que aconteça eu não irei virar a cara, deixar de falar, tratar mal esse alguém e assim por diante. E é se ancorando nessa “bondade” vista por muitos por aí que algumas pessoas escolhem pisar na bola um milhão de vezes e simplesmente mostram ao mundo que: Não querem mudar.
Depois da mentira, depois do engano, depois da traição, depois das falsas promessas é difícil confiar novamente, é difícil dizer que agora as coisas vão ser diferentes quando o outro continua fazendo tudo exatamente igual. Acredito que o que precisamos para confiar novamente não são palavras, mas sim atitudes que nos mostrem e nos deem a segurança de que: vale a pena confiar novamente.
Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock