A palavra razão origina-se de duas fontes: a palavra latina ratio e a palavra grega logos. Essas duas palavras são substantivos derivados de dois verbos cujos sentidos são muito parecidos em latim e em grego. Logos vem do verbo legein, que quer dizer: contar, reunir, juntar, calcular. Ratiovem do verbo reor, que significa: contar, reunir, medir, juntar, separar, calcular.
Por isso, logos, ratio ou razão significam pensar e falar com clareza e de modo compreensível. Então, a razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se de forma clara e correta. É conseguir pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma maneira de organizar a realidade.
Agimos sempre por alguma razão, então todos nós a temos.
Percebam que na linguagem do senso comum, no dia a dia, parece ficar claro que a palavra razão no singular tem mais peso do que ela mesma no plural, por isso fiz esse trocadilho com o tema deste artigo. “Posso não ter razão, mas tenho as minhas razões”. Não há diferença entre a razão e as razões, o que ocorre é que costumamos confundir o “ter razão” com o “estar certo”.
Se todos nós temos as nossas razões, é provável que estejamos todos certos, ou não?
Longe de mim querer me aprofundar na filosofia, da qual sempre fui mera leitora, porém há de ser útil ao nosso convívio mútuo entender que as razões são de cada um e que cada um acredita estar certo em suas escolhas, posições e argumentos.
Outro dia alguém postou no Facebook que é mais importante ser feliz a ter razão. Bom, se ter razão se referir a estar certo, realmente é muito mais negócio optar pela felicidade. Acredito que é mais feliz quem discute menos. Estar sempre certo é impossível. A necessidade de “vencer” sempre as “batalhas relacionais” é uma fotografia escrachada da insegurança, da falta de confiança em si próprio e da baixa autoestima.
Gente que briga com o mundo e que quer sempre estar certo talvez também tenha suas razões, mas eu acredito que elas não sejam muito saudáveis.
De uma forma simplista podemos dizer que a razão (as nossas razões) vem da conclusão do nosso pensamento e estimulam o nosso comportamento. Toda ação, antes de acontecer, passa por um processamento em nosso cérebro. Lembrem-se de que falo de cérebros neuróticos normais, visto que os psicóticos não seguem essa regra.
Quando observo relações, percebo sempre uma barreira quando os indivíduos começam a lutar pelo título de “eu sou o certo” e dão a isso o nome de “lutar pela razão”. Como se quisessem que os dois cérebros tivessem funcionamentos idênticos, que o outro sucumbisse às suas sinapses, anulasse toda a sua capacidade intelectual para seguir cegamente às ordens do outro. Exigir isso torna a tal barreira tão intransponível que acaba por provocar o fim do relacionamento.
Tentar anular no outro a sua capacidade e o seu poder de pensar e de ter então as suas razões é um desacerto para a sociedade. Muitas vezes vemos fracassos em relacionamentos afetivos e profissionais por estarem sempre seguindo o script de que é preciso que um esteja certo e o outro errado. Lutam incessantemente entre si acreditando que a paz está em estar certo e o que acabam encontrando lá é a morte – a morte de uma relação.
É feliz que tem suas razões e entende que o outro tem as dele, quem percebe que o outro vê o mundo usando lentes diferentes das nossas. Lentes estas adquiridas na história de vida de cada um. Somos diferentes e não podemos, nem jamais poderemos mudar o outro. Talvez por isso nós psicólogos tenhamos posturas tão contrárias a qualquer tipo de tentativa de alienação. A alienação é a perda da capacidade de pensar e de organizar os pensamentos no que são “as suas razões”.
Como disse Mário Quintana “Só não muda de opinião quem não a tem”.