Já falei de metades, bradei sobre instantes e saí nas ruas dançando amor. Mas esqueci de rabiscar no asfalto e pintar nos muros a indagação que deixa qualquer amante sedento de palavras; se não vim nessa terra pra não morrer de amor, por que vim? É tempo de colocar os pingos nos is e fazer valer o coração que nos comporta e nos move por dias a fio, cambaleante, mas afinco, disposto sempre ao impossível de formas possíveis.
“Enquanto me reconheço, quanto mais vivo, menos esqueço”. (Helio Flanders)
A mensagem é clara e nua: vamos abraçar os clichês. Vamos reconhecer as nossas próprias pernas e mãos desmedidamente compondo um afresco desse nosso amor que não é castrado e controlado pelos ditos ritos sociais. Vamos perder as estribeiras e mergulharmos fundo na poesia sufocante da ausência de métricas trajando versos aleatórios, mas munidos de tanta vontade que não existirá ar, somente uma enchente de sorrisos.
Não quero mais medir o tempo das coisas já vividas. Quero e, espero que também queira que criemos o nosso próprio espaço emocional e físico, onde possamos despejar litros e mais litros de admiração, confiança, respeito e companheirismo. Porque presos nas mazelas do egoísmo barato, o amor é o primeiro da fila no abismo.
Quero cantarolar na mesa de bar, bebendo descontraidamente, a felicidade carnavalesca do amar nós dois. Mas sem fazer qualquer tipo de pose ou discursos de inveja para ganhar público de amigos e desconhecidos, pois no nosso palco, o show é intimista e artístico num ponto que não cabe plateia.
Por que eu não vim nessa terra pra não morrer de amor? Porque é com o amor que me visto e saio porta afora. Sem ele, a vida seria um paraíso desnudo do qual não poderia fazer parte.
“E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou. E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como se não ouvia mais”. (Chico Buarque)