Eu pedi sua opinião? Então não enche.

Por que será que sempre existe alguém para nos dizer que devíamos tentar isso ou aquilo para resolvermos um problema?

Eu, pelo menos, costumo saber exatamente o que tenho que fazer para resolver os meus problemas e quando não sei – e de fato quero resolver! – busco ajuda.

Ninguém precisa me dizer “você devia exercitar mais a sua disciplina” quando estou procrastinando. Ora, se estou procrastinando é porque tenho motivos (talvez esteja com medo, por exemplo) e não porque me falte disciplina – sou super disciplinada quando quero!

“Você devia se exercitar mais”, “você devia parar de fumar”, “você devia comer menos besteiras”,  “você devia se separar”, “você devia falar menos”, “você devia ser mais discreto”, “você devia arranjar um emprego”, etc, etc, etc.

Quando foi que o verbo “dever”, conjugado no pretérito imperfeito, se tornou regra e/ou sinônimo de perfeição e adequação?

Que estranha mania esta de quererem nos ajudar quando não pedimos ajuda. Que chatice essa a de todo mundo ter uma opinião sobre como deveria ser a nossa vida.

Sempre que isso acontece comigo, pergunto-me: essa pessoa deseja ajudar por que gosta de mim e quer o meu melhor ou simplesmente não consegue lidar com minha fraqueza, minha imperfeição?

Seu intuito é ajudar ou afastar a possibilidade de se ver refletida num espelho de imperfeição? Sim, porque os meus possíveis deslizes podem acordar os dela, não?

E mais: querer ajudar é sinônimo de amor ou necessidade de controle?

Infelizmente todos nós, por este ou por aquele motivo, somos vítimas da necessidade de ajudar. Quando amamos muito uma pessoa e percebemos, por exemplo, que ela está se autossabotando, cavando buracos com as próprias mãos,  tendemos a sugerir “isso” ou “aquilo” imaginando que estamos incentivando-a a melhorar.

Mas a vida tem me ensinado, dia após dia, que a melhor ajuda que podemos oferecer a alguém é deixar com que este alguém seja ele mesmo – ou seguir o conselho atribuído a Goethe:

“Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser e você as ajudará a se tornarem aquilo que são capazes de ser”.

No fundo, no fundo, as únicas ajudas de que todos nós necessitamos se chamam aceitação, respeito, acolhimento e amor.

Mônica Montone

Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.

Recent Posts

Reviravolta: Pai de Vitória é incluído na lista de suspeitos após apresentar “comportamento estranho”

Uma nova reviravolta na investigação sobre a morte da jovem Vitória Regina de Sousa colocou…

13 horas ago

Minissérie da Netflix que está todo mundo vendo não vai sair dos seus pensamentos por muito tempo

A minissérie de 6 episódios que acaba de estrear na Netflix adapta o best-seller homônimo…

15 horas ago

Marca histórica: Filme da Netflix teve mais de 94,4 milhões de horas assistidas em apenas 3 dias

Este blockbuster que equilibra ação e emoção com maestria conquistou o público e se consolidou…

2 dias ago

Nova série da Netflix destrona Bridgerton no coração de muitos fãs de dramas de época

A série de 6 episódios que acabou de estrear na Netflix tem chamado a atenção…

3 dias ago

Médico especialista em longevidade é encontrado sem vida aos 31 anos em Itajaí (SC)

Alisson Nunes, que se apresentava nas redes como especialista em emagrecimento, hipertrofia e longevidade, foi…

4 dias ago

Gene Hackman ou a esposa pode ter morrido vítima da ‘síndrome do coração partido’, sugere patologista

Patologista com vasta experiência em casos forenses aponta que a morte de Gene Hackman ou…

4 dias ago