Fabíola Simões

Eu tinha deixado de acreditar no amor, até que conheci você

Às vezes não há aviso algum. Nenhuma pista, nenhum sonho premonitório, nenhuma intuição. Aquilo que parece só mais um dia, um dia comum, é o dia em que o amor o alcança. Você ainda não enxerga sincronicidade, encontro de dois caminhos, início de uma história que será contada pela eternidade. Mas acontece. Do nada. Sem aviso algum. Apenas como um “teste” da vida para saber se você sabe reconhecer delicadezas. Sem perceber que foi eleito, você pode recusar a sorte que lhe sorri e continuar acreditando que o mundo está cheio de almas vazias para o seu querer. Ou, atento à clandestinidade da felicidade, pode reconhecer os sinais e por um instante de descuido, permitir que o amor o alcance.

Por mais decepcionadas e blindadas que as pessoas estejam, não se pode generalizar as derrotas do amor. Nem todo mundo está fazendo hora com você, nem todo mundo quer te usar para depois descartar, nem todo mundo está tão machucado que não quer se envolver. Ainda acredito que há pessoas dispostas a andar de mãos dadas, a assumir compromissos, a investir num encontro até que o tempo mostre que ali há uma vocação para o amor. Ainda acredito em investimento emocional, parceria, cumplicidade, envolvimento. Insisto em não desistir de acreditar em afinidades, que vão desde uma cerveja compartilhada numa tarde quente até a disposição para conhecer e começar a gostar de séries policiais no Netflix. Posso parecer ingênua e excessivamente otimista, mas ainda tenho fé num tipo de sentimento que começa num encontro tímido e, com muita vontade e coragem, vai se tornando, pouco a pouco, dia a dia, em amor construído, batalhado, valorizado.

Eu tinha deixado de acreditar no amor, até que conheci você. Mais do que dizer que eu era a mulher da sua vida, você me fez entender que eu poderia ter um tipo de amor que eu não sabia que existia. Um tipo de amor que me assegurava possibilidades novas, até então desconhecidas para mim. Sabe, eu tinha me acostumado a aceitar pouco. Eu tinha me habituado a ter em minhas mãos migalhas. Eu tinha aprendido que deveria me sentir grata por qualquer pontinho de afeição direcionado a mim. Eu não sabia que poderia ter mais. Não sabia que havia alguém disposto a me acompanhar sem reclamar, sem impor condições, sem pedir algo em troca. Não sabia que era possível ser amada dessa maneira. Não imaginava que poderia encontrar alguém que segurasse minha mão com tanta força e ternura que eu nunca mais teria medo de não ser amada.

Eu entendia o amor errado. Imaginava que amar era um jogo que oscilava entre perdas e ganhos. Imaginava que a sensação de estar numa montanha russa emocional me tornava mais “viva”, mesmo que isso custasse noites com o travesseiro molhado de lágrimas. Eu precisei me despir de meus medos e aceitar que poderia ter alguém diferente de tudo o que eu já havia conhecido antes. Alguém que estava disposto a atravessar as tempestades junto comigo e tornar meu caminho menos sinuoso.

Era preciso que eu voltasse a acreditar no amor. Era preciso que eu descobrisse que era possível encontrar alguém com quem poderia compartilhar pequenas ou grandes histórias, momentos delicados ou grandiosos, alegrias serenas ou arrebatadoras, tristezas miúdas ou generosas. Era preciso que eu entendesse que reciprocidade não se trata apenas de ligar no dia seguinte ou responder a uma mensagem carinhosa. Tudo isso faz parte, é claro, mas também se trata de ter real interesse na sua vida, orgulho de suas conquistas, parceria, respeito, investimento de tempo e sentimento. Era preciso que eu encontrasse você. Era preciso que eu te amasse como eu te amo e aprendesse, de uma vez por todas, que o amor se constrói no dia a dia, somando pequenas delicadezas, diminutas concessões, miúdas gentilezas e abundante dedicação.

Imagem de capa:  alessandro guerriero/Shutterstock

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Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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