Exibir valentia não é prova de coragem. É atestado de burrice.

Já viu quanta gente se gabando por aí de fazer mais e falar menos, enquanto quase ninguém se faz disposto a pensar um pouquinho primeiro? De que adianta? Povoado por quem não pensa nem sente, o mundo vira um festival de gente achando bonito ser impulsivo, genioso, enfezado, valentão. Não, nada disso é admirável. Ostentar destemor nunca foi excesso de coragem. É mera falta de inteligência mesmo.

Basta usar só um pouquinho do discernimento que todos temos, mas que muitos de nós nunca sequer abriram, para se dar conta de que resolver tudo “no peito”, “no grito” e “na força” é um recurso desesperado, perigoso e destrutivo. E que pessoas muito afeitas a enfatizar sua força física e seu poder de fogo quase nunca os utilizam para alguma coisa que preste. Preferem esculhambar em vez de organizar, destruir em vez de realizar, bater em vez de socorrer, derrubar em vez de levantar. Em lugar do diálogo e da tentativa de conciliar e corrigir, escolhem um danoso, eterno e impensado quebra-pau.

Observe. A quem sobra valentia geralmente faltam autocrítica, equilíbrio, sensatez. Valentões não têm escrúpulo nem remorso. Não têm papas na língua. Não têm bom senso para refletir que falar sem pensar nem sempre é o mesmo que ser sincero. Aos brigões, enquanto sobram ímpetos de quebrar tudo, invadir, fazer e acontecer contra o outro, sempre contra o outro, falta disposição de olhar para dentro, examinar as próprias questões, encontrar e corrigir as próprias falhas.

Valentões carecem da bravura essencial de assumir quando erram. São covardes fundamentais. Escondem-se de suas próprias deficiências. Preferem julgar o erro alheio com estardalhaço e eficiência.

Sei não. Mas eu tenho a impressão de que coragem é outra coisa. Não carece anunciar. Gente corajosa de verdade não precisa provar nada a ninguém. Vive a vida com destemor e pronto. Enfrenta seus medos, cai, levanta, vai em frente.

Corajosos são seres inteligentes, sabem que a luta é outra, que a maior briga acontece é dentro da gente. Valentões são criaturas burras e inseguras, o tempo todo tentando provar ao mundo seu desassombro e sua força.

Pessoas corajosas de verdade têm outra ocupação. Fazem o que precisam, o que devem. Inclusive fugir, sem medo e sem culpa, de toda peleja estúpida que só presta a quem não tem mais o que fazer. Porque gente corajosa de fato conhece as suas responsabilidades. E não foge delas nem a pau.

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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