Certa vez tive um sonho diferente. Nele um índio vinha até mim em um cavalo e, exultante, ele me contava o que havia descoberto: Eu fui até depois daqueles montes – dizia-me ele apontando ao longe – e era dia.

Assim que despertei, pesarosa e com tristes perspectivas, eu entendi o significado do sonho. Eu estava passando por dias escuros em minha vida, dias regados de incertezas e o índio tentava me dizer que lá na frente era sol, que eu tinha que continuar a caminhar se eu quisesse sair daquilo. O sonho me deu um sopro de vida. Mesmo que eu estivesse cansada e passando por situações angustiantes, o meu futuro era bom.

Estava na época em um relacionamento ruim. Carregava em minhas largas costas, dentre outras coisas, o peso de ter escolhido a pessoa errada para compartilhar a minha vida e os meus sonhos. Na época eu não sabia que sonhos não podem ser confiados àqueles que não têm um sentimento sincero por nós. Eu não sabia que sonhos morrem ao toque da possessividade, da inveja e do rancor.

Os meus sonhos quase morreram naqueles fatídicos dias. Ouvi muitas vezes que eu nunca alcançaria aqueles montes. Que eu não teria força e competência para isso. Que minhas pernas não eram suficientemente boas para alcançá-los.

Eu entendi por fim que precisava acreditar em mim sem hesitar. Parei ,então, de tentar provar a minha força. Não perderia mais tempo provando coisa alguma. Entrando em discussões tolas. Sentindo-me exausta pela descrença de quem um dia eu acreditei gostar de mim.

Subi inúmeras vezes até uma altura razoável e fui puxada em muitas delas para trás. Fiquei chateada e exausta, mas não desisti. Eu queria a luz do dia. Não aguentava mais viver sufocada e na escuridão. Eu sabia que conseguiria sair daquela relação se continuasse a lutar por mim. Eu sabia que atrás do montes havia um sol lindo me esperando. Eu só estava vivendo em um vale sombrio, mas esse não era o meu lugar.

Hoje, assim como aquele índio do meu sonho, eu venho contar para vocês que atrás dos montes é dia, viu. Que depois do fim existe um novo começo. Que depois do fim existe um vale encantado. Uma folha em branco. Um caminho lindo perfeito para os nossos pés.

O que aprendemos com nossas escolhas erradas fica na gente. Depois do fim temos convicções otimistas e a certeza de que fomos mais fortes que aquilo que um dia zombou da nossa capacidade. Depois do fim a gente sabe do sol, que ele é para todos. Que só basta a gente acreditar.

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Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain

Vanelli Doratioto

Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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