Sempre que tento andar pelo caminho do meio acabo me perdendo no meio do caminho.
Me perco porque acho que estou no caminho errado e saio em busca de atalhos, sem saber que certas fomes, certos dramas, certos enredos, certas tramas não têm saída: é matar ou morrer e depois, renascer.
Não, não sou extremista. A vida, às vezes, é que me parece pedir atitudes extremas. Não há escolhas sem perdas, nem caminhos sem pedras.
Querer andar no caminho do meio sem ser hindu, chinesa ou japonesa é o mesmo que vestir um quimono sem ser gueixa: a seda pode até se acomodar sobre a pele, mas a sede no olhar denuncia faltas ancestrais.
Se não tenho olhos de águia para contemplar o outro lado da montanha, por que deveria forçar meus olhos de menina na amplidão? Se não tenho olhos de coruja por que deveria forjar uma sabedoria que ainda não alcancei?
Simplesmente por que é mais bonito? Mais sensato? Mais equilibrado? Mais sábio? Mais maduro? Simplesmente por que é o que esperam de nós?
Não saber andar no caminho do meio me gera uma vergonha insana. Uma vergonha que me chicoteia e me tira a paz tanto quanto meus dramas de menina-moça.
E se eu quiser achar que o caminho do meio é o caminho da mediocridade? Da mornice? Da mesmice? Do tédio? Da acomodação?
Por que a virtude está no meio? Quem inventou essa fábula?
Não seria essa fábula um mero sistema de controle? Onde se pretende amordaçar, aquietar e amansar almas que não se contentam com a superficialidade do conforto?
Picasso, Van Gogh, Baudelaire, Drummond, Beethoven, Lispector, Pessoa, Bukowski, Dylan, Maiakóvski teriam feito suas grandes obras se estivessem no caminho do meio? Ou as fizeram exatamente por que estavam em busca dele?
Não sei. Sei que me aflige essa história de que devo andar no caminho do meio e que me queima essa sensação de inadequação quando percebo que meus passos são largos demais para caberem nesse pliê.
Bem na verdade me preocupam e causam mais comoção as pontes e a paisagem do que o caminho em si.
Assim vou sendo… E estando no mundo…
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