Não ando com muita paciência sobre uma situação que tem ocorrido com relativa frequência.
Pessoas telefonam perguntando qual a minha linha de atuação como Psicóloga, pois foram orientadas, por alguns profissionais da área da saúde, que deveriam buscar por um psicólogo(a) que atuasse numa determinada modalidade de atendimento clínico.
Primeiramente, pergunto se esses profissionais têm conhecimento profundo sobre os objetivos de uma Psicoterapia; em segundo lugar, penso que tal orientação somente revela uma incompreensão profunda sobre o ser humano.
Por que digo isso? Porque, cada pessoa é única, singular; cada indivíduo tem um idioma pessoal. Desta forma é impossível colocar a teoria em primeiro lugar. Grandes estudiosos da psique humana como Freud, Winnicott, Lacan, Bion desenvolveram teorias tendo a experiência clínica como norteadora de suas posições teóricas, nunca ao contrário.
O ser humano não cabe dentro de uma teoria, não tem natureza genérica, não é uma abstração. Por ser Uno deve ser compreendido em sua complexidade e transcendência e a situação clínica deve acolher e se adequar a essa singularidade.
Assim sendo, o que a pessoa necessita é encontrar um analista que não tente colocá-lo dentro de um determinado padrão reducionista, achatando-a para que se adapte em teorias postuladas. Isto é comportar-se como Procusto, no famoso mito grego criado como metáfora para imposições de um padrão tido como o correto.
Procusto era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, tinha uma cama de ferro, com seu exato tamanho, na qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se o hóspede fosse demasiado alto, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-lo à cama, e o que tinha pequena estatura era esticado até atingir o comprimento suficiente.
Uma relação de acompanhamento psicoterápico deve ser construída à medida que o indivíduo vai revelando e desvelando suas peculiaridades. O bom profissional, ciente disso, busca o conhecimento em vários aportes acadêmicos, atenta-se em estabelecer um adequado vínculo com a pessoa, assim como cria um setting (espaço apropriado para que a relação aconteça.
Somente ele, o paciente, é que tem o conhecimento sobre si mesmo, mas que, numa determinada situação de sofrimento psíquico, precisa do auxilio de um profissional.
Acredito na Clínica da Pessoa que implica reconhecer o outro na sua alteridade e numa posição ética, onde o lugar do analista é acompanhar e não educar a manifestação própria de cada pessoa.
O Prof. Dr.Gilberto Safra afirma: o que necessitamos para as ciências humanas não são teorias, mas Escolas de Compreensão, pois somente assim haverá possibilidade de superar a abordagem do ser humano como um “Caso”.
Desta forma, acredito no “fazer clínico” como a arte de compreensão da Pessoa como Ser de sentido e que cria sentidos.
Imagem de capa: wavebreakmedia/shutterstock
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