Por Gabriela Gasparin
A feirante Viviana Novaes de Oliveira começou a trabalhar na feira aos sete anos e nunca mais parou. “Não tive infância”, enfatizou. Até hoje, é do pastel e caldo de cana que vende nas feiras que consegue o sustento para criar os dois filhos. E é por isso que, desde pequena, ela não sabe o que é ter finais de semana: “sábado e domingo são os melhores dias de feira”, explica. No decorrer dos anos, viu a mãe tirar a própria vida e, logo em seguida, seu pai que já estava doente também se foi.
Apesar dos pesares, é sempre sorridente que ela atende a clientela na feira. Aprendeu com a vida que tudo pode acontecer a qualquer momento. Desde que a mãe se foi, disse que carrega uma lição: vive um dia de cada vez.
“Eu não penso no dia de amanhã, eu vivo o hoje. Por isso eu sou sempre feliz. Hoje eu sou feliz, está ótimo. Não sei o amanhã, não pertence a gente.”
Resolvi conversar com ela antes de saber qualquer detalhe de seu passado, justamente porque a achei muito simpática ao vender caldo de cana na feira que tem perto da minha casa. Viviana brincava com a clientela, trocava sorrisos e tratava a todos muito bem.
“Eu posso estar triste com o que for porque aconteceu alguma coisa na minha casa, mas eu nunca deixo transparecer isso na minha feira. Eu acho que as pessoas não merecem o que eu vou passar, tenho que passar alegrias para os outros.”
E foi com a mesma alegria que ela me contou grande parte de sua vida, entre o preparo de um e outro caldo de cana aos clientes.
Cresceu e sempre trabalhou na feira. “A minha infância foi essa. Todo mundo saindo sábado para ir para a balada e eu estava no quintal raspando cana para meu pai vender. Eu não tive por bem dizer uma infância. Daí eu casei e sempre trabalhei. Sempre, sempre, sempre.
Casada há 12 anos, Viviana tem dois filhos, um de 11 anos e uma menina de 5. O marido dela trabalha com ela na feira. “A feira quem começou foi os meus pais e eu trabalho desde os 7 anos, eles faleceram e eu continuo na feira.”
Vivina até tinha outra profissão a seguir, pois fez um curso de auxiliar e técnico de enfermagem, mas achou mais garantido seguir no trabalho que sempre desempenhou. “Mas como a minha vida inteira eu trabalhei na feira, eu falei, não vou trocar o certo pelo duvidoso, e continuei na feira.”
Mãe que desistiu da vida
O pai faleceu um pouco depois que a mãe se foi. Ele tinha problema no rim, fez um transplante e o coração não aguentou.
A feirante contou que seus pais tinham se separado. A mãe dela não superou a separação e a saída que encontrou foi tomar veneno para rato no lugar do habitual leite com café. “Foi um choque, porque ele já estava doente, ficava uma semana em casa, duas no hospital, então a gente já estava mais ou menos preparado. Agora, a minha mãe a gente nem imaginava que ela ia fazer isso”, afirmou. “Foi muito difícil. Ela era uma pessoa que gostava de viver, estava sempre feliz, sempre alegre, e de uma hora para outra ela decidiu.”
E é por isso que Viviana acredita estar preparada para tudo na vida. “Depois de ter passado por isso, nada me abala mais no decorrer da vida, já foi um choque, mais o que eu posso ter? Depois do falecimento dela eu me sinto muito forte. Acha que tem alguma coisa para me abalar? Não tem.”
Sentido da vida
A feirante me disse que nunca tinha parado para pensar sobre o sentido da vida antes, mas respondeu minha pergunta: “eu acho assim, o que é ser vivo? Eu acho que na vida a gente tem que estar preparado para tudo, coisas boas, ruins.”
Disse que batalha por dias melhores. “Agora estou lutando porque mais para a frente tenho que estar sossegada, estar em paz com a vida. Como eu trabalho tanto e sempre trabalhei, eu quero descansar.”
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