Olha só uma coisa. Todo mundo já sentiu infelicidade. Acontece. Ser infeliz é condição essencial para ter felicidade. Senão como é possível saber o que é uma coisa e o que é outra? Só é feliz quem já foi triste e vice-versa.
Agora, esse negócio de achar que o prazer de toda gente infeliz é fazer os outros também infelizes não é verdade, não. No mínimo, é injusto. Quem tem satisfação na infelicidade alheia não é necessariamente infeliz. É sádico e mau caráter. Pura e simplesmente tonto.
Você sabe. Para ser sádico, tonto e mau caráter não é preciso ser infeliz. Tem gente, aliás, que encontra a felicidade, esse estado relativo de realização e bem-estar, explorando o trabalho alheio. É! Tem gente por aí muito feliz por ganhar dinheiro nas costas dos outros, pagando uma miséria a escravos que fingem não viver na escravidão. Agora mesmo, uma multidão se refestela no papel do boboca ranzinza que distribui patadas a todo canto, em casa, no trabalho, na escola. É gente que acha engraçado ser escroto, faz disso seu “charme” e, no fundo, tem é um descarado tesão nesse tipo de maldade.
Com todo respeito, eu discordo de quem acredita que a alegria do infeliz é estragar a felicidade alheia ou atrair as outras pessoas para o seu estado de infelicidade. Isso quem faz é o patife, o cretino. O pervertido. Aquela gente que responde a um simples “bom dia” com um desnecessário “bom dia por quê?” e se acha original, verdadeira e inteligente, quando na verdade é só um papagaio adestrado repetindo asneira, uma mula raivosa escoiceando o mundo à sua volta e querendo aparecer.
Gente infeliz é diferente. Quer mais é ficar na dela. Curar suas feridas, entender suas dores, parar de sofrer. Ou acabar com essa amargura e esse pesar de uma vez por todas, em sua mais funda solidão. Não quer, de jeito nenhum, espalhar sua dor por aí. Isso é próprio dos babacas, não dos infelizes.
Todo babaca é assim. Gozando da maior felicidade ou mergulhado na mais funda treva, sua vida é infernizar alguém. É espalhar infelicidade em algum grau, de alguma forma, a quem puder. Não porque ele é um infeliz. Mas porque sua alegria consiste em se saber melhor do que os outros, superior a ponto de estragar-lhes qualquer instante do dia, encerrar o jogo, furar a bola, espalhar a roda. Repare. É assim que é!
Gente boa, quando abatida de alguma sorte pela tristeza, não deseja esse mal a ninguém mais. Isso é vício de gente ruim, imbecil e perversa a ponto de ser feliz por azedar a felicidade alheia.
Tristeza, não. Infelicidade, muito menos. Esses são outros sentimentos, determinados por outros estados de coisas, vividos por outro tipo de gente. Uma gente que agradece quando sente um cadinho de alegria, seja nela mesma, seja nos outros. E que só por isso já merece toda a felicidade que há no mundo.