Felicidade é não esconder sentimentos em troca de relacionamentos comuns, de uma vida sem vibração e num trabalho que mais parece um piloto automático de chatices sem porquês e explicações. Mas felicidade também não é jogar tudo para alto e imaginar viver uma vida isenta de limites e consequências. Felicidade é, no termo inteiro, saber reconhecer o próprio tempo.
Sim, felicidade é ponto de partida e não linha de chegada. Ainda assim, vivemos diariamente com uma arma angustiante apontada para a alma. O medo que não te deixa seguir. O passado que não te deixa criar presentes. E são obrigações e mais obrigações a serem cumpridas. Normas e regras ditadoras de sentimentos. Desaprendemos a amar. Pouco já não preenche. O quero muito e agora é cada vez mais visto nos sorrisos amarelos, nas fotos filtradas e nas declarações do tipo “como se não houvesse amanhã”.
Talvez, em todo esse processo, estejamos afastando a tal felicidade das nossas vidas. Até o convívio sereno de outrora deu lugar para essa busca incessante e egocêntrica. Pressionados, abrimos um leque de possibilidades com uma das mãos e deixamos ao léu as coisas simples noutra. O cheiro de café saindo, o abraço da saudade, a chuva inesperada no meio do dia e o amor que chega sem coletar o carinho dado. Cadê?
Não adianta cruzar os braços e dizer que o tempo é curto e injusto. Felicidade é saber prezar por momentos mais sublimes e por escolhas que não submetam o coração a um cárcere privado. Felicidade é, antes de qualquer coisa, saber da beleza dos instantes, pois não existe isso de felizes para sempre. A felicidade é, entre uma escolha e outra, a perspectiva e o tamanho da coragem que depositamos por prazeres não extintos em tempo de vida. O importante é a felicidade contida no tempo de nós.