Nem toda mulher precisa ter um filho, mas todo filho precisa de uma mãe!

Não, o título não foi um engano. A simplicidade da ideia é trazer à tona uma reflexão que já está mais que atrasada: nem toda mulher precisa ter um filho, mas todo filho precisa de uma mãe! E não faz a menor diferença se essa mãe gerou e pariu a criança ou surgiu do nada, vinda de um outro lugar a milhares de quilômetros de distância. Tanto faz, ainda mais, se essa mãe é uma mulher ou um homem, posto que há neste mundo homens de coração e mente abertos para receber, cuidar e criar filhos que não geraram, ou que geraram, mas foram deixados para trás por suas mães biológicas.

Ao contrário do que se propaga tanto, precisamos parar com essa bobagem de endeusar aquelas que permitiram que um de seus óvulos – ou mais de um -, fossem fecundados. Precisamos parar de aceitar como normal, crianças que vêm ao mundo “por descuido ou acidente”.

Veja bem, trata-se muito mais do que um bebezinho que precisará ser amamentado, limpo e cuidado. É muito mais que uma montanha de fraldas sujas, noites sem dormir, roupinhas molhadas ou cheias de cocô. É infinitamente mais que um serzinho que trará mais despesa, que precisará de assistência médica, roupa, comida, atenção, amigos, escola, cama, brinquedos… e mais uma infinita lista de “necessidades a serem supridas”.

Trata-se de um ser humano inteiro que crescerá à revelia dos sonhos infantis de alguns pais e mães, que acreditam em poder perpetuar a infância de seus rebentos para sempre. Trata-se de futuros homens e mulheres que pensarão, manifestarão suas ideias e agirão muito em acordo com o espelho dos ensinamentos éticos – ou não -, dentro do qual tiveram a honra de se desenvolver.

Mãe é um ser muito mais mundano que sagrado. Mãe precisa ter os pés muito bem posicionados no chão da vida, para poder escolher com a razão – e não com a emoção -, quais caminhos pretende trilhar e decidir se é, e se está apta a permitir que seu ventre abrigue uma nova vida.

Eu, sinceramente, fico besta com os rumos ridículos, rasos e fúteis nos quais anda mergulhada a ideia de maternidade. Barrigas imaginárias de poucas semanas sendo exibidas em “Stories” das redes sociais, dia após dia, para compartilhar com os “seguidores” o processo da gestação. É sério isso?! E as festinhas encomendadas para que o casal descubra dentro de um bolo ou de um balão de gás se aquele que está sendo gestado é menino ou menina?! Já viram isso? É de chorar de dó da pequenez humana! E os “mesversários” com direito a bolos mega decorados?! E as empresas que se dedicam a decorar o quarto da maternidade para que a moça que acabou de sofrer uma revolução ampla, geral e irrestrita em seu corpo, junto com uma criança que não está entendendo nada, recebam uma procissão de visitas interminável, todo mundo cumprindo um rito social que não faz o menor sentido?!

Olha… de verdade, eu ando é muito preocupada. Eu ando é chocada com a confusão sem proporções acerca do que realmente importa diante do milagre da vida. É da nossa natureza a evolução; no entanto, o que está acontecendo é que “involuímos” a olhos vistos. Estamos nos prestando a um papel indigno demais, alienado demais. E o pior de tudo é que nesse delírio, acabamos por envolver seres inocentes que são trazidos ao mundo mais pelo evento do que pelo real significado da coisa.

Neste 13 de maio, eu escolho subverter a ordem! Eu escolho celebrar o “Dia dos Filhos”, porque eu, que sou mãe, me tornei mãe por escolha e responsabilidade. Eu que sou mãe, já tive mãe; e honro a sua memória pela mulher extraordinária que ela foi, e também por todas as suas inúmeras falhas que cometeu; Dona Daisy fez exatamente o que deu conta de fazer; foi a mãe que era possível ser; me ensinou coisas certas e coisas erradas também; e é assim que é. Eu, assim como minha mãe, às vezes acerto, às vezes erro, porque a gente vai aprendendo a ser mãe, sendo mãe. A gente aprende que amar os filhos é algo muito mais profundo do que sair bem na foto nas datas comemorativas.

Por tudo isso, neste domingo ensolarado de maio, eu escolho honrar a missão terrena que abracei ao dar a luz Pedro e Sofia. Escolho acolher em meu coração imperfeito todos os filhos que, de alguma forma, possam se sentir indesejados, inadequados ou imperfeitos. Escolho vibrar para o mundo esse amor racional que inunda meu peito, e me faz saber que Pedro e Sofia são minha responsabilidade para todo o sempre. Feliz dia dos filhos! Porque filhos somos todos, mas só devemos ser mães se tivermos absoluta certeza da enormidade que encerra essa ideia. Ser mãe não é para todo mundo, é para quem entende que vai ter uma ou algumas partes de si, andando libertas por aí, reproduzindo em suas jornadas os ensinamentos que se ofereceu, por gosto ou, principalmente, sem querer!

***

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena da animação “Cegonhas”

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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