Porque aquele que recebe todos os dias as maiores orações para ser esquecido, este ainda carrega feridas abertas e uma boa dose de dor.
O amor que deixa saudades é o que já passou pela prova do desapego e do tempo. O que invoca somente os momentos felizes, que conseguiu perdoar e ser perdoado. Esse amor foi feliz enquanto foi amor. E depois pode ter virado amor de outro amor, mas se eternizou nas lembranças e no tempo.
Enquanto a gente se esforça para banir um amor, nada é saudade e toda memória é sacrifício. Esse amor entra na conta do “não valeu”, como nos jogos de criança.
Sem saudade nenhum amor foi de verdade. O esforço que vale não é o de esquecer, de repelir lembranças nem distorcer o tempo passado. O esforço que vale é analisar, torcer e espremer até entender que não foi um amor. Caso contrário, deixaria as saudades. Seria digno de um momento de lembrança, um risinho no canto da boca, um cheiro, um sabor, um calor.
A morte leva os amores mas deixa as saudades. A vida faz o mesmo. A diferença entre as duas é a nossa participação. Enquanto a primeira dispensa, esta outra vai deixando a gente escolher e ser escolhido. Pegar e largar. Manter ou perder.
Mas se por um mínimo instante da vida o amor esteve presente, a saudade vai confirmar um dia.
Saudade não dói. O que dói é a ideia da separação de um amor. Mas tantas vezes é preciso… tantas outras é inevitável…
A saudade aparece para nos da enorme capacidade de amar, dos momentos mais vividos, ainda valendo ou não na contagem, mas preservados, etiquetados e arquivados, ao alcance das mãos da saudade. E quando ela puxa um deles, nos mostra satisfeita que foi um amor feliz.